Opinião: o COVID-19 mostrou o lado ruim das startups

Uma crítica sobre as startups atuais

Opinião: o COVID-19 mostrou o lado ruim das startups
Photo by Sherise VD / Unsplash

Em meio à crise, empresas seguem uma cartilha óbvia e segura que é ensinada a todos os empreendedores, empresários, líderes e gestores: corte custos, diminua despesas, dispense todos os cargos que não geram valor, corte pessoas com salários estratosféricos etc.

Em primeiro lugar, nenhuma empresa deveria rodar com custos acima do necessário. Em segundo, ninguém deveria contratar pessoas que não geram valor pra empresa. Em terceiro, nenhuma empresa deveria pagar um salário injusto. E injusto quer dizer que o valor não pode causar desconforto em qualquer um dos dois lados.

Todos sabem que startups alavancadas, só pra citar o mercado de tecnologia, criam um distúrbio no mercado. Aqui no Brasil estamos começando a sentir isso só agora. Mas lá fora, você pode pegar o sério problema de gentrificação que está acontecendo em São Francisco e arredores por causa dessa curvatura irreal que as empresas de tecnologia tem causado durante os últimos anos. Com a crise, estamos vendo como as startups (odeio categorizar empresas de produtos como startups, mas esse é mais um termo que o mercado quebrou) estão lidando com essa crise.

Logo as startups que deveriam ser um sinônimo de alto desempenho com baixo custo e entrega de valor constante pra o negócio, estão fazendo exatamente o contrário: compram crescimento rápido em vez de crescimento fundamentado. Tentam aplicar aqui uma realidade que supostamente deu certo com empresas do Vale do Silício: injetam dinheiro, pra querer ver um crescimento exponencial. Mas aqui não é o mercado americano que já está tecnologicamente muito mais maduro que o Brasileiro. Aqui é o Brasil, onde o Facebook e Instagram são sinônimo de internet, onde fonte de notícia (e pornô) é o WhatsApp e o Google serve pra procurar memes de gatinhos.

Os momentos que estamos vivendo agora são situações extremas, que precisam de soluções extremas. E uma solução extrema pode ser a demissão em massa, nesse caso para algumas empresas e alguns unicórnios alavancados que não dão lucro (valuation não é caixa), ou pode ser uma solução totalmente contra a cartilha comum. É nesse momento que as chamadas startups deveriam voltar a pensar na essência do que realmente é uma startup: eficiência.

Todos estão passando por uma fase de pressão. Diretorias precisam pensar imediatamente em como gerar caixa rápido. Product Managers precisam redirecionar seus produtos para gerar caixa rápido. Equipes que trabalham em qualquer tipo de iniciativa de “inovação”, devem parar imediatamente o que estão fazendo, pra começar a fazer que realmente gere valor financeiro pra empresa.

É nesse momento que vemos como diretores de empresas unicórnios pensam sobre gestão de pessoas e é aqui que validamos todo o discurso carinhoso e amoroso que é falado nas entrevistas e nas reuniões feitas com a empresa toda é um discurso realmente forte e real. Aquela coisa de “o nosso maior ativo são as pessoas” ou “estamos aqui para fazer diferente, e você é parte fundamental disso” tem que se mostrar verdadeiro agora. É aqui que vemos se os valores e princípios que a empresa pregou até então não passam de um discurso cool e artificial pro mercado achar que a empresa é descolada.

Resgate os princípios e valores da sua empresa e cobre a prática de cada um dos pontos. Cobre a diretoria. Não aceite respostas como “precisamos preservar caixas e essa era a única maneira”. Tente ir além disso. Tente entender como eles lidam com dinheiro. Tente entender como será a atitude deles pós-crise. Tente entender como eles evitarão que soluções imediatistas ou oportunistas que impactam negativamente a vida das pessoas serão mitigadas ou melhor planejadas no futuro.

O oba oba deve acabar e precisamos viver momentos mais racionais.