Seria ótimo conseguirmos prever o futuro, não? Vontade não nos falta e tentativas também não. Ser humano que somos, trazemos conosco uma convicção nata e uma esperança demasiada de que o futuro será como gostaríamos que ele fosse. Esse é um dos nossos principais combustíveis da vida. Sonhar com o amanhã.
É claro que para você, PM, o exercício da futurologia é parte importante do seu currículo diário. Afinal, que PM que nunca teve que responder quando algo ficaria pronto, que atire a primeira pedra. E não, isso não é uma crítica, é de fato a natureza dos negócios. A empresa precisa se planejar nos moldes da escola de administração do século XX que paira sobre nós atualmente. É a regra, é o senso comum.
Não me entenda mal, você vai, sim, precisar trazer uma visão de futuro e uma timeline em que ela se concretizará. Lutar contra isso é inútil. O desafio maior está em equilibrar essa necessidade genuína de previsibilidade com a certeza de que a incerteza é a variável mais estável em nossas vidas.
Planos são importantes, mas não o mais importante
Você provavelmente já passou pela situação de criar um roadmap ou uma timeline com bastante esforço, atenção e discussões longas. Tudo parecia muito bem estruturado até o primeiro dia real de execução. A partir daí, o plano cuidadosamente montado começa a se desconstruir — atrasos surgem, dependências antes ocultas se revelam e decisões feitas meses atrás deixam de fazer sentido.
Mas por que insistimos tanto em acreditar que o plano inicial será sempre um sucesso, mesmo sabendo que, no fundo, não temos controle absoluto sobre o futuro? A resposta talvez esteja na forma como aprendemos a planejar. Fomos condicionados a pensar que planejar é sinônimo de prever, de controlar. Essa é a essência do paradigma da administração tradicional, que ainda molda boa parte da cultura organizacional atual.
Na prática, planos não são importantes apenas pelo que prometem, mas pelo contexto organizacional que sustentam. Uma timeline não é só um calendário de entregas; é um instrumento de coordenação essencial em ambientes corporativos complexos, especialmente em organizações que precisam alinhar múltiplas áreas simultaneamente.
Marketing precisa do plano para estruturar campanhas estratégicas com antecedência suficiente. Vendas dependem dele para organizar metas e treinamentos, operações para dimensionar equipes e recursos corretamente. Áreas como financeiro, jurídico e compliance usam esses mesmos planos como referências para orçamentos, análises de risco e auditorias internas.
Portanto, o plano é algo muito importante, mas não é a coisa mais importante. O mais importante é garantir que todas as partes envolvidas estejam alinhadas, que enxerguem qual a direção inicial que foi definida e que haja um comprometimento das pessoas em seguir o que foi estipulado.
Todo plano deveria ser uma ferramenta de comunicação, alinhamento e, o mais importante, de aprendizado e não um mecanismo de controle e futurologia.
O valor real está na reflexão, não no documento
O grande valor de ter um plano alinhado é de fato trazer consciência para as pessoas de que a realidade à nossa volta irá dificilmente de encontro com o que planejamos e que, muito certamente, existe uma zona cinzenta ao nosso redor que não somos capazes de enxergar.
Durante o processo de planejamento, surgem conversas fundamentais sobre riscos, dependências e hipóteses de negócio que geralmente não acontecem de maneira natural no dia a dia corrido da execução. Planejar força essas conversas difíceis, que nos levam a entender melhor as lacunas do que sabemos e do que ainda desconhecemos.