Antes de começar a ler este artigo, recomendo que você leia o artigo 12 Métodos para acabar com incertezas em produto — Parte 1.
Na parte 1, havíamos mencionado a pesquisa de guerrilha, workshops com stakeholders, testes A/B, investigação contextual, etnografia e a validação de arquitetura da informação. Agora iremos nos debruçar sobre: estudos diários, entrevistas com usuários, surveys, card sorting, testes de conteúdo e testes de usabilidade como métodos para reduzir incertezas em produto, então vamos lá!
Estudos diários
Os estudos diários (também conhecidos como "diário do usuário" ) são usados para registrar dados qualitativos durante um período definido de tempo. Nesse método, os participantes completam um diário por conta própria, recebendo materiais para registrar suas sensações ao interagirem em um produto em momentos específicos, como se fosse um diário mesmo.
Trata-se de um método de baixo custo em termos de equipamento especializado; porém, há alto custo em termos de tempo para a coleta de dados e posteriores análises. Outro obstáculo pode ser encontrar usuários realmente dispostos a colaborarem com a pesquisa, dado que requer certo comprometimento por parte deles. Um ponto forte dos Estudos diários é que ao registrar suas experiências conforme elas ocorrem, os participantes são menos propensos a distorcer ou mesmo esquecer detalhes importantes.
Situações em que os Estudos Diários são úteis
- Novo conceito na indústria
- O que precisamos saber sobre os usuários
- Como os usuários realmente usam isso?
- Como os usuários usam isso?
- Precisamos começar de novo…
- Mudar como trabalhamos
Ferramentas para conduzir estudos diários
- Diários de papel;
- Evernote ou outras ferramentas colaborativas;
- Google Docs;
- Google Drive para registros diários em vídeo e áudio;
- Mensagens de WhatsApp diretas ou em grupos
- Ferramentas de interação como Slack ou Discord
- Questionários online
A IDEO e o Laptop de 100 dólares
Novamente a IDEO aparecendo como exemplo de pesquisas. Desta vez, a famosa consultoria foi contratada para fazer pesquisas de usabilidade para o primeiro laptop da One Laptop per Child (OLPC), também conhecido como o laptop de US$ 100.
O projeto OLPC foi uma iniciativa liderada pelo professor Nicholas Negroponte, do MIT Media Lab, com o objetivo de criar um laptop de baixo custo para ser distribuído em países em desenvolvimento, visando fornecer acesso à educação e tecnologia para crianças em áreas carentes.
Uma equipe da IDEO viajou para países como Nigéria, Bangladesh e Brasil, onde observaram crianças em comunidades, escolas e em casa durante semanas.
Durante essas pesquisas, as crianças receberam laptops de teste e foram instruídas a usá-los diariamente em suas atividades e instruídas a registrarem suas experiências, desafios e descobertas nos pequenos diários fornecidos pela equipe da IDEO.
Os resultados trouxeram insights para o design final do laptop, que acabou sendo projetado para lidar com a resistência à poeira, água (por conta das chuvas), e uma interface otimizada para aquelas crianças, pois não tinham familiaridade com o uso de tecnologias.
O laptop resultante ficou conhecido como XO-1 e foi lançado em 2007 como parte do programa OLPC e teve um impacto significativo na educação em todo o mundo.
Entrevistas com usuários
Nesse método, são elaboradas perguntas visando obter explicações em profundidade e esclarecimento sobre o contexto de uso de um produto. A entrevista com usuários pode ser estruturada (com um roteiro pré-definido) semi-estruturada (parte roteirizada e parte livre) ou aberta (totalmente livre).
É uma abordagem utilizada de forma proeminente nas ciências sociais, na pesquisa de mercado, pesquisa de usuários e no estudo das interações humano-computador. Podem ser realizadas tanto individualmente como na forma de grupos focais.
São um método apropriado para identificar atitudes, preferências, comportamentos comuns e o contexto em que os usuários vivem e operam, e como eles pensam e fazem associações.
As entrevistas não são feitas para pedir detalhes sobre como criar uma solução ideal ou pedir por sugestões de melhorias. Aqui vale aquela velha frase atribuída a Henry Ford: “Se eu perguntasse às pessoas o que elas queriam, elas teriam dito: cavalos mais rápidos.”. Logo, um dos principais objetivos das entrevistas é identificar problemas e não buscar por respostas prontas.
“As entrevistas com os clientes têm o objetivo de explorar aquilo que você ainda não sabe que não sabe.”
Ash Maurya, no livro Running Lean
Situações nas quais entrevistas com usuários são relevantes
- Novo conceito na indústria
- Stakeholders não concordam com…
- O CEO teve uma ideia…
- Por que XXX não está funcionando?
- Quem são nossos usuários?
- O que precisamos saber sobre os usuários?
- Como os usuários realmente usam isso?
- O que os usuários pensam disso?
- O que os usuários estão experienciando?
- PRecisamos começar de novo
- Mudanças na forma como trabalhamos
Ferramentas para entrevistas:
- Seu roteiro de entrevista
- Algo para fazer anotações
- Termos de consentimento
- NDA, caso necessário
- Equipamento de gravação, caso necessário
A Shimano e as Coasting Bikes
Um caso mostrado por Tim Brown em seu aclamado livro sobre Design Thinking. Em 2004, a Shimano, fabricante japonesa líder de componentes de bicicleta, estava com seu crescimento estagnado em seus tradicionais segmentos de mountain bikes e bicicletas de corrida, então, contrataram a IDEO para desenvolver pesquisas de produto. Ao entrevistarem usuários adultos norte americanos, as equipes da IDEO identificaram os seguintes pontos:
- 90% dos adultos norte americanos não andavam de bicicleta, mas o faziam quando crianças e tinham boas recordações daqueles tempos
- Maioria dos adultos possuía estilo de vida sedentário e não se identificava com apelos de venda esportivos
- Maioria não pertencia à base de clientes da shimano
Após conduzirem entrevistas e outras pesquisas, desenvolveram o conceito de coasting bikes: bicicletas construídas mais para o prazer do que para os esportes, com visual retrô inspirado nas antigas bicicletas Schwinn (utilizada na infância de boa parte dos adultos entrevistados). Um ano após o lançamento da bicicleta, sete outros fabricantes haviam se candidatado para produzir coasting bikes.
Surveys
São pesquisas usadas comumente em pesquisas de mercado e de usuários. Elas têm algumas limitações, no entanto, têm uma execução barata e potencial para atingir números elevados de amostragem. As surveys são utilizadas para alcançar grande volume de pessoas e reunir dados quantitativos e estruturados. Os questionários quantitativos podem ser realizados tanto face a face ou por meio de questionários online. Estes questionários também podem incluir CSAT (Customer Satisfaction Score) e NPS (Net Promoter Score).
Situações nas quais surveys são relevantes
- Stakeholders não concordam com…
- O CEO teve uma ideia…
- Por que XXX não está funcionando?
- Por que as conversões estão baixas?
- Quem são os nossos usuários?
- O que precisamos saber sobre nossos usuários?
- Precisamos começar de novo…
- Mudar a forma como trabalhamos
Ferramentas para surveys
- Optimal Workshop: www.optimalworkshop.com/questions
- Google Forms: https://www.google.com/intl/pt-BR/forms/about/
- Airtable: https://www.airtable.com/v2
- SurveyMonkey: www.surveymonkey.co.uk
- Alchemer: www.surveygizmo.com
- Campaign Monitor: www.campaignmonitor.com/appstore/getfeedback/
- Key Survey: www.keysurvey.co.uk/
Card sorting
É um método utilizado para entender como as pessoas pensam sobre determinado produto digital por meio das associações que elas fazem entre cartões, agrupando itens que julgam estarem relacionados entre si. O objetivo é entender como os usuários agrupam, classificam e relacionam informações ou conceitos, permitindo que designers e desenvolvedores organizem o conteúdo de uma forma que reflita o pensamento e as expectativas desses usuários.