Product Manager em grandes empresas x startups

O contexto pode mudar, mas o que se espera é o mesmo: que você gere valor. Mas, o que realmente importa em cada caso?

Product Manager em grandes empresas x startups
Photo by Andrew Palmer / Unsplash

De um lado, dinamismo, movimentação e uma voracidade por crescimento. Do outro, burocracia, uma quantidade maior de stakeholders e um grande esforço para mexer alguns ponteiros da companhia.

Talvez este seja o resumo que muitos tenham na cabeça quando pensam em qual é a verdadeira diferença entre ser Product Manager de uma empresa grande ou um Product Manager de uma startup.

O primeiro ponto a ser desmistificado é que o trabalho em todas as empresas são iguais como PM. Acredite, mas é possível lidar com uma expectativa gigantesca em grandes empresas ou até mesmo ter um ritmo menos exacerbado em startups. Depende de momentos, da alta liderança ou até mesmo da maturidade do negócio na empresa em que atua.

Porém, existem alguns padrões que diferenciam um pouco essas duas realidades.

Como as grandes empresas veem o papel de um Product Manager

É comum que grandes companhias façam uma confusão no papel do PM - tanto que algumas preferem contratá-lo como Product Owner, dentro do espectro da agilidade.

Isso porque muitas consultorias têm batido na tecla da Agilidade. Diferente dos autores clássicos de product management, o princípio da agilidade é calcado em alta produtividade, pensando em times enxutos. Ou, como diz um clássico artigo da Harvard Business Review de 2018:

“Estes pequenos grupos empreendedores são designados a se manterem próximos dos clientes e se adaptarem rapidamente às condições de mudança. Quando implementados corretamente, eles muitas vezes resultam em maior produtividade, menor tempo de lançamento no mercado, mais qualidade e menor risco do que as abordagens tradicionais podem alcançar”.

Pensando na estruturação de times, a Agilidade possui um grande mote, e o que se vê são diversos exemplos de companhias que tentaram adaptar o famigerado modelo Spotify - que, por sua vez, é baseado nos papéis do Scrum, com as figuras do Product Owner, Scrum Master (ou Agilista), Designer e Engenheiros de Software.

É comum que as grandes empresas comecem esse processo com pequenos passos. Como elas naturalmente possuem maior controle orçamentário, geralmente iniciam a construção de seus primeiros times na área de Digital, que conecta o negócio à tecnologia.

No começo dessa transição, é comum que os stakeholders mal saibam diferenciar o papel de uma pessoa de produto. Às vezes você pode ser contratado como Product Manager e ser chamado de P.O. no dia a dia. Por ser um movimento novo, as companhias ainda estão se adaptando.

No dia a dia do PM, é importante que se tenha noção deste contexto. Em minha primeira experiência com produto em uma grande companhia, um dos maiores erros que cometi foi considerar que a companhia já havia escalado a importância da área de produto às demais áreas. Logo me vi em reuniões em que falava de ritos como Discovery e Planning, e boa parte das pessoas não entendiam nada.

Outra dificuldade pela qual passei foi relacionada à estratégia. Era difícil, naquele momento, conseguir conectar o squad em que liderei ao que a companhia realmente buscava.

Seria um erro da companhia? Não quando se entende o real motivo de se estar lá. Para isso, conversas francas com seu gestor direto - que pode não ser um Group Product Manager, vale frisar - ou o designado Gerente Sênior responsável pela escalabilidade da área podem ajudar.

É comum que muitas pessoas façam a transição para a área de Produtos dentro dessa realidade. Saber se movimentar, nesse quesito, é mais importante do que dominar os conceitos da área de produto.

Pode ser que a empresa valorize muito mais o tático do que o estratégico - o que significaria tocar as sprints nos ciclos corretos, dar visibilidade dos deploys realizados e se movimentar para os ciclos de reviews.

Saber comunicar tudo isso na linguagem predominante de negócio é uma arte: não saia falando todos os jargões de uma só vez. O importante é que os stakeholders tenham visibilidade de que você e seu time estão gerando valor para o negócio.

Percebe como a agilidade entra aqui? Ritos, cerimônias, agilidade para subir determinadas mudanças… Dentro do universo de produto, isso pode não fazer muito sentido quando desconectado do negócio. Dentro de uma grande companhia, porém, esses objetivos podem não estar muito claros.

Além disso, é comum que grandes empresas contem com terceiros realizando o tático - principalmente com engenheiros de software e de qualidade. Áreas como Transformação Digital, que ajudam a conectar esses times ao negócio, também possuem stakeholders relevantes para lidar no dia a dia. Por outro lado, muitas delas têm a figura do Scrum Master ou Agilista ajudando no ritmo do tático - que podem tirar um grande peso no dia a dia.

Por isso, tenha leitura, movimente-se, converse com os stakeholders e cobre essa estratégia da sua liderança. Você dificilmente encontrará uma área bem estruturada. E, mesmo que encontre, saiba jogar o jogo. Sua contribuição, na verdade, será em conectar esses pontos e talvez até mesmo focar um pouco mais no tático. Não que isso seja regra: dependendo da maturidade da empresa, o PM pode, sim, contribuir com o direcionamento da estratégia e ter autonomia para o que será desenvolvido a curto, médio e longo prazo.

Se você vê problema nesse tipo de dinâmica, talvez valha a pena considerar startups. Mas, já deixo avisado: nem tudo são flores.

Product Manager em uma startup: como é essa realidade?

A profissão de Product Manager, de certa forma, ganhou escalabilidade devido ao cenário de constantes incertezas das startups. Conceitos como agilidade e lean startup evidenciam a importância deste profissional, que tem sido cada vez mais cogitado no momento em que a startup nasce e vai em busca de investimento.

Nos estágios iniciais, existe uma grande expectativa em torno do Product Manager. Ele é a pessoa que irá conectar a visão ao que será desenvolvido e muito provavelmente terá contato direto com os C-levels nessa construção.

É comum que startups em fase inicial procurem por PMs com vivência no mercado, ou seja, mais sêniores. Isso porque, dependendo do crescimento da empresa, ele será referência para construção dos times de produto e alinhamento contínuo com time de Engenharia.

Quando atuei como um dos primeiros PMs de uma startup do mercado financeiro, tive que cuidar de mais de um produto ao mesmo tempo e sem apoio de figuras importantes, como Agilista ou, em alguns casos, até mesmo de Tech Lead. Portanto, tenha cuidado para não extrapolar horas de trabalho achando que pode cuidar de todas as caixinhas que são jogadas no seu colo.

Não significa, por exemplo, que você precise saber codar, ok? Na verdade, o PM de uma startup precisa ficar atento em como conectar os pontos e priorizar o que é mais importante. Tem feature que vai ficar como v1 por um bom tempo e até mesmo alguns componentes que não se conversam por um determinado período.

Em algumas startups, o CEO pode pressionar e até mesmo cobrar o andamento das sprints, sempre pensando em velocidade. Poucos vão ouvir quando você disser que Agilidade não tem a ver com subir uma funcionalidade mais rápido e, até que os conceitos de product management sejam absorvidos, você pode lidar com alguns top-downs.

Claro que existem startups que têm uma visão mais madura de como ser um PM. Dessa forma, você poderá concentrar suas energias em gerar valor de forma mais efetiva e traduzir a estratégia no desenvolvimento do produto.

Conclusão

O que vale entender é que, em muitos casos, a atuação de um Product Manager fica dependente de um processo de amadurecimento da própria empresa.

No caso de uma grande empresa, pode ser que ela esteja em alinhamento com uma consultoria de estratégia para determinar seus próprios processos ou até mesmo construir aos poucos a visão de negócio conectada aos times de produto.

Já no caso de uma startup, a velocidade tem uma importância crucial, e alguns PMs podem ter que se conectar com todas as áreas e multiplicar suas tarefas para que o negócio atinja seus objetivos.

Em todos os casos, é possível extrair aprendizados e se desenvolver continuamente. Vale lembrar que cada empresa tem a sua realidade, a sua estratégia e o seu modo de operar times de produto. Saber jogar o jogo pode aliviar a ansiedade de quem quer dar o seu máximo para que seu time de produto realmente mexa os ponteiros.

Entenda o contexto da sua empresa, converse com seus líderes e saiba ouvir o seu time e os stakeholders, para que possa realmente fazer a diferença como Product Manager - seja em uma startup ou em uma grande empresa.

Referências