O que a série Chernobyl da HBO pode nos ensinar sobre crises em produção

Como lidar com crises?

O que a série Chernobyl da HBO pode nos ensinar sobre crises em produção
Photo by Mads Eneqvist / Unsplash

ALERTA DE SPOILER!!!

Além do spoiler de quase 40 anos de um ocorrido na cidade de Pripyat na antiga União Soviética (hoje região da Ucrânia), a emissora e produtora americana HBO. A produção  dessa dramática minissérie de 2019 conta em 5 episódios de tirar o fôlego, os eventos e como as coisas se deram passo-a-passo. Então, este artigo precisará ter um duplo ALERTA DE SPOILER!

Apesar de sabermos o desfecho: a crise foi contida - entrou para a história, mas foi contida. Essa série nos convida a refletir sobre algo que acontece quase sempre na vida de alguém de produtos quando já temos algo em produção: como lidar com crises?

Quem deve agir em caso de crise?

Sendo direto e objetivo: todos. Entretanto, contudo, todavia as melhores pessoas para conseguir resolver uma crise, serão as pessoas técnicas. Geralmente quando estamos falando de uma crise em produção, pode haver milhares de motivos para estarmos com um site, aplicativo, ou sistema fora do ar. Por mais que sejamos bem intencionados em ajudar ou mediar, talvez nós de negócios - e eu me incluo nisso, vamos mais atrapalhar do que ajudar.

Já no primeiro episódio, quando a crise começa, ligam de madrugada para o professor Valery Legasov (interpretado por Jared Harris) convocando-o para participar da equipe científica que vai diagnosticar o problema. Quando o professor chega ao que parece ser um comitê de emergência para discutir a crise, existem figuras de negócios comentando sobre o que está acontecendo de uma maneira suave, como se não passasse de um “incêndiozinho” que talvez não precisaria do alarde, a crise já estava contida, apesar de países vizinhos, como a Polônia, já avisar que estavam detectando radiação.

Estas pessoas, independente do valor moral que a série retrata, ou que elas podem de fato ter, não tinham o conhecimento para fazer uma avaliação completa daquela situação inédita.  Porém, elas assumiram a interlocução para tentar amenizar a situação e sabe-se lá o que poderia ter acontecido se elas fossem bem sucedidas. Assim que o professor Legasov tem  seus primeiros contatos com as fotos aéreas do incidente, já imediatamente toma a dianteira e alerta para talvez ser uma catástrofe gigantesca.

Não sabemos se essa parte da dramatização é verídica ou não, mas esse é o exemplo claro que precisamos ter em mente no momento do diagnóstico do problema. Nós de negócios precisamos assumir que somos bons em negócios, essa é nossa skill, esse é nosso talento e deixar que o time técnico diagnostique o que está acontecendo.

Achei o problema! E agora? Paliativa, paliativa e mais paliativa.

Resolva, ué?! Assim como mostra a série. No momento que temos uma crise, não adianta ficarmos muito tempo questionando, filosofando e etc. Aqui entra um contraponto bem delicado, às vezes até muito conflitante com o ponto anterior de liberdade para TI trabalhar. Quando já estamos em uma situação a ser chamada de “crise” provavelmente já temos pessoas, usuários, clientes sendo impactados. Então, precisamos resolver o mais breve possível, nem que para isso não usemos a melhor das alternativas, as famosas paliativas.

E isso é algo que precisamos enquanto participantes da sala de crise lembrar o tempo inteiro, se estamos trabalhando uma paliativa, ou uma solução definitiva.

Na série, diversas paliativas foram tentadas para tentar sanar a crise, algumas delas foi tentar jogar areia na busca de  apagar o incêndio, mas que deu o efeito contrário, fazendo a areia se transformar em lava e derreter o chão, colocando em risco o lençol freático que poderia contaminar e matar boa parte da população da Europa, ou pior, se alastrar para outros continentes.

Ok! A paliativa funcionou, e agora? Agora sim, chegou nossa hora.

Passada a crise, com os padrões de normalidade quase estabelecidos, podemos descansar, relaxar, e etc, mas é importante que no dia seguinte façamos uma intensa depuração que se pergunte: como eu garanto que nunca mais eu passarei por isso novamente?

Este é o momento em que temos maior participação, amiga produteira.

Para exemplificar bem, o último episódio da série remonta a eventos que ocorreram entre 7 e 30 de julho de 1987, onde houve o julgamento para depurar de quem era a responsabilidade da catástrofe. Vou tentar resumir a brilhante cena onde o professor Legasov mostra detalhe por detalhe, minuto a minuto de como a crise começou e os motivos que a levaram a ser como foi, mas a informação mais valiosa foi que quando o reator estava prestes a explodir um último protocolo de segurança foi acionado para tentar conter uma possível catástrofe, o botão chamado de “AZ-5” que fazia barras pesadas de Boro, elemento químico capaz de frear a reação nuclear falhou. O motivo de sua falha, foi porque essas barras em suas pontas eram feitas com outro elemento químico, o Grafite,, com um efeito contrário, acelerando mais ainda a reação nuclear.

Não sei se ficou claro, mas o freio agiu como um detonador da explosão. Quando questionado sobre o porque essas pontas eram de Grafite eram usadas, já que eram perigosas pelo tribunal, o professor respondeu: “porque são baratas”.

Confesso que me deu um sentimento de revolta muito grande nessa cena, e mais ainda de saber que essa é verídica, entretanto, a grande lição que aconteceu após esse julgamento é que todos os reatores nucleares no mundo todo que eram semelhantes ao de Chernobyl passaram por atualizações para que essa catástrofe nunca mais acontecesse.

Essa é a grande provocação que podemos, e devemos levar para um time após passar por uma crise e nós de produtos podemos provocar: “como garanto que nunca mais vou passar por isso novamente?”.

Referência bibliográfica

Portal Amazon IMDb. Chernobyl. Disponível em < https://www.imdb.com/title/tt7366338/ > Acessado em 28/11/2022 às 22:40;
WORLD NUCLEAR ASSOCIATION. Chernobyl accident 1986. Update em Abril 2020. Disponível em <https://www.world-nuclear.org/information-library/safety-and-security/safety-of-plants/chernobyl-accident.aspx#:~:text=The%20Chernobyl%20accident%20in%201986,in%20many%20parts%20of%20Europe.> acessado em 28/11/2022 às 23:31;