O feedback de milhões

Um pouco sobre psicopedagogia, feedback construtivo e cultura de vulnerabilidade.

O feedback de milhões
Photo by Adam / Unsplash

Olá,

Tudo bem com vocês por aí? (:

Faz um tempão que não apareço por aqui, mas fiquei inspirada esses dias!

Esse é um texto para dividir com vocês algumas coisas que aprendi durante meus contatos com a psicopedagogia, alguns líderes muito bons, outros nem tanto e alguns liderados que me fazem todo dia uma pessoa melhor!

Bora falar sobre feedback construtivo e cultura de vulnerabilidade na prática?


É incrível como nos ensinaram desde a escola a nos apegarmos aos pontos negativos das nossas jornadas. Você acertou 8 questões de 10? O que estará marcado na sua prova, com um vermelho cintilante, são aquelas duas questões que você não acertou!

Você fez uma ótima apresentação no trabalho e a frase que vem é ''você foi incrível, parabéns, MAS, esqueceu informação XPTO''! E lá se vai toda a sensação de vitória por água abaixo!

E a sensação é sempre a mesma, NÃO SOU SUFICIENTE!!

Inclusive essa semana li algo sobre o uso do MAS nas frases. Você sabia que o MAS é uma conjunção e ela, em geral, carrega a informação com maior ênfase da oração? Quando o elogio vem carregado de um ‘mas’ ele permeia um lugar de não segurança, e esse não é o ambiente que queremos criar para as pessoas, né?! A verdade meu caro leitor é que o feedback de milhões não desencoraja, não é sobre você e não diminui o brilho do que foi feito!

Todo dia é dia de aprender. Recebi o feedback de uma liderada, com enfoque na CORAGEM/VUNERABILIDADE e não na culpa, em um dia particularmente difícil pra mim. Foi tão importante que acabei postando no linkedIn, coisa que quase nunca faço, e se vc quiser ver o quão generosa e vulnerável  ela foi, pode (clique aqui). Para esse texto o que você precisa saber é: Ela sentiu falta dos nossos 1:1, pois estamos em uma nova separação de times, e ao invés de deixar a chateação falar mais alto ela colocou o porquê aquele momento era importante pra ela e como isso fazia falta.

Foi muito gratificante escutar por esse lado, entendi que eu precisava ter feito uma transição  mais cuidadosa, que deveria ter mantido os 1:1 por algum tempo, porém na mensagem dela o MAS era ''sinto falta das nossas trocas'' e esse é o feedback que muda o nosso dia pra melhor, mesmo que seja de melhoria!

Você sabia que o pedagogo Célestin Freinet defende que as coisas certas nas avaliações sejam assinaladas enquanto as erradas apenas não sejam? Isso quer dizer ''olha pro seu bom trabalho aqui, e ali... aquele outro precisa repensar, MAS olha os outros que você acertou aqui!'' É encorajando os acertos e deixando claro o que não foi acertado, que construímos a força das pessoas e não alimentamos a sensação IMPOSTORE!

Nessa odisseia de reflexões me veio a vontade de compartilhar com vocês o feedback que tem trazido o time pra perto e que sempre tento dar por aqui!

Bora dar um calmante pra esses impostores aí dentro?!

Como faço meus feedbacks e como gosto de recebê-los

Basicamente eu não gosto da famigerada moda do feedback sanduíche (realça um ponto positivo > ponto de melhoria > ponto positivo). Acredito que as pessoas precisam ter clareza dos seus pontos de melhoria e as expectativas sobre aquela relação, e nesse formato  as informações ficam um tanto quanto incertas e é por isso que sempre opto por deixar claro se é um feedback de fortalezas ou de melhorias procurando sempre separar os momentos, e se for de melhorias deixando tempo hábil para conversarmos sobre possíveis soluções.

Porém vale lembrar que o feedback não pode ser sobre os seus ideais, precisa ser pautado em dados e fatos, e o mais importante, a comunicação deve sempre ser proposta em um formato acolhedor e não julgador. E por isso chegamos ao ponto: Será que você conseguirá alcançar essa pessoa sem que ela própria consiga também reconhecer esses pontos? Sendo assim o feedback precisa estar ligado ao nível de percepção da pessoa que recebe. Que tal ajudar e investir no autoconhecimento também?

Logo uso algumas ferramentas como teste de sabotadores, PM Wheel ou 16 personalidades para que as pessoas se conheçam melhor. Em geral o resultado é algo que discutimos nos nossos 1:1 e de lá mesmo sai um possível PDI. (Claro que faço algumas intervenções nas reflexões, do tipo ''vejo essa sua característica quando você faz X ação, lembra daquela situação XPTO? Talvez se você tivesse escolhido um caminho diferente a gente teria um outro resultado, o que você acha?'' e juntos fazemos essa reflexão, baseados sempre em dados e fatos.

A ideia aqui é sempre entender que além do profissional tá o indivíduo que sobreviveu a uma PANDEMIA e está lidando com seu próprio mundo!

Em cima do que a gente discutiu pensamos: “para o seu próximo passo de carreira o que é mais urgente? ” E fazemos um recorte possível de um PDI palpável sem 10 milhões de    ações que nunca são cumpridas, sempre tentando inserir ações de dia a dia para que se torne hábito e de fato aquela pessoa consiga dar o próximo passo na sua trilha de carreira!

No fim das contas é se colocar vulnerável para criar um real espaço de segurança!

''se você não entende de pessoas você não entende de negócio'' — Simon Sinek - If You Don’t Understand People, You Don’t Understand Business | Simon Sinek

Boa sorte a todos nessa jornada que é viver o/

Referências:

Link das ferramentas que uso:

Espaços que inspiram: