O app super legal que ficou entre os top 5 mais baixados no dia do lançamento, uma funcionalidade que surgiu numa pesquisa durante a etapa de discovery ou aquela ideia maluca do stakeholder que você e o time remodelaram durante os ciclos de dual track até uma versão que realmente mudou métricas importantes?
Sim, todos esses podem ser casos de sucesso, mas existem algumas histórias bem sucedidas que são pouco disseminadas por aí, um pouco naquela linha de "o verdadeiro herói não usa capa". São os casos de produtos não lançados, abandonados, aqueles que desistimos de trabalhar.
Preciso mitigar riscos pra quê mesmo?
Antes de explicar sobre esses casos impopulares de sucesso, vale lembrar sobre os famosos 4 riscos a serem mitigados, citados pelo Marty Cagan no livro Inspired:
- Risco de valor: se existe valor para os usuários, a ponto de comprarem e usarem seu produto;
- Risco de usabilidade: se os usuários conseguem utilizá-lo para os devidos fins;
- Risco de viabilidade: se é viável construir esse produto considerando tempo, equipe e tecnologias;
- Risco de negócio: se essa solução faz sentido para a empresa (financeiramente, operacionalmente, estrategicamente, etc).
Você pode ler mais sobre os 4 riscos no blog do SVPG (Silicon Valley Product Group).
É inegável o quanto esse pensamento pode nos ajudar no dia a dia e como é gratificante saber que mitigamos os riscos antes de lançar um produto ou funcionalidade.
Mas e quando entendemos que um ou mais desses riscos é muito grande, que não vale a pena ou que não vamos conseguir mitigá-lo? Levamos isso como um fracasso?
Não. É agora que chegamos na parte do "herói que não usa capa". Se você ajudou a empresa a entender que um desses riscos é alto demais a ponto de cancelar o lançamento de algo, parabéns! Afinal, se todos os riscos sempre fossem mitigados e tudo desse certo, por que precisaríamos dessa etapa e de pessoas de produto? Não seria só lançar tudo sempre?
Relembrar todas aquelas famosas histórias de que a maioria das startups encerra as atividades por construir o que ninguém quer, por acabar com o dinheiro antes de terminar o desenvolvimento de algum produto ou por motivos similares, só reforça que: invalidar um produto é um sucesso!
Qual a vantagem de invalidar um produto?
Bom, talvez não seja a pauta da sua próxima palestra, talvez você não seja chamado para falar sobre isso num podcast e provavelmente isso não será o motivo da sua promoção (mas talvez deveria).
Ao invalidar um produto, você com certeza economizou meses de trabalho que não iriam gerar o resultado esperado para a empresa.
Muito se fala sobre economizar o tempo dos desenvolvedores, mas vai muito além disso. Existiriam outros esforços desperdiçados dependendo do contexto da empresa, por exemplo:
- Designers: para entender e construir as melhores experiências;
- Product Marketing / Marketing: em caso de necessitar de um processo de Go To Market ou mesmo ajustes nas comunicações ou branding;
- Customer Success: afinal, é nosso papel ajudar essas pessoas a se capacitarem para atender as dúvidas de nossos usuários sobre os novos produtos / funcionalidades; e
- Eventualmente profissionais de áreas mais específicas: backoffice, operações, financeiro, data science, BI...
Imagine um cenário de invalidação de um produto / funcionalidade aí na sua empresa, pense em todas as pessoas que trabalhariam com você nesse Titanic caso você não tivesse feito seu trabalho de invalidar a ideia. Pois é, ficaria caro para a empresa né?
Isso sem falar no custo de oportunidade, já ficou caro o suficiente…
Conclusão
É necessário mitigar os riscos porque é importante, não porque o Marty Cagan falou.
Precisamos dar mais valor e visibilidade aos casos de invalidação de produtos. É muito legal ser um rockstar de produtos, e espero que cada um de nós tenha a oportunidade de passar por isso, mas não vamos nos esquecer dos dias em que "salvamos o mundo sem a capa".