“Quem tem fome come o que tem!”
Essa era a frase que a minha mãe me dizia quando eu falava que estava com fome, e ao falar o que tinha para comer, eu respondia que não queria comer aquilo. Sempre penso nessa frase quando ouço que as pessoas de produto NÃO DEVEM fazer pastel.
Aqui vai uma opinião sobre isso.
Se é o pastel que alimenta, não pare de fazer até que você consiga mudar o cardápio ou o paladar de quem pede os pastéis, caso contrário você e a empresa podem morrer de fome! Explico melhor.
É normal que as pessoas de produto reclamem de pedidos/iniciativas com datas definidas ou urgência dos stakeholders, assim criando a comparação a pastelaria.
Eu concordo que esse não é o melhor jeito e nem o mais saudável. Porém, deve-se tomar cuidado com essa REGRA de que pessoas de produto não DEVEM fazer pastel. Isso causa uma frustração caso a pessoa esteja em um lugar com essa cultura de pastelaria.
O ponto é que não tem problema fazer pastel, faz parte do jogo que a pessoa de produto precisa jogar no dia a dia.
Mas como eu sei que o pastelzinho mata a fome?
A resposta para essa pergunta é de certa forma bem simples: medindo.
Se você vai fritar um pastel então você pode medir o resultado que ele vai gerar para ter os dados ao seu lado quando for argumentar que esse tipo de iniciativa não é saudável para o negócio, time e cultura da empresa.
Mas se o pastel que você frita gera resultado positivo, impacta o negócio e resolve problemas do usuário, aí eu te pergunto: qual o problema de fritar uns pastéis de vez em quando?
Tenha em mente que isso tudo vai te servir como aprendizado e que você pode, a cada pastel, dar visibilidade do esforço técnico, visibilidade sobre o que esse pastel gerou de impacto dentro do time (insatisfação, horas extras etc..) e mostrar que apesar de necessário, o pastel não é saudável.
Ah! Vale lembrar, que algumas vezes os pastéis acontecem porque a pessoa de produto não dá a visibilidade necessária para os stakeholders sobre o time e muitas vezes sobre as decisões tomadas.
Exemplo: Um stakeholder uma vez pediu para que o meu time fizesse a implementação de um sistema no dia 28/12 para que estivesse no ar no dia 03/01. Ao ouvir isso eu ri e pensei “ta di sacanagi!”, mas em seguida dei a visibilidade da situação do time para ele: líder técnico de férias, 1 dev saindo da empresa, 1 dev de férias, o que faria sobrar somente 3 devs sendo 1 destes o único backend e que ainda por cima, estava sendo compartilhado com outra squad para entrega de uma iniciativa que era prioridade 1 da empresa. E não menos importante, além disso era fim de ano, só o lembrei caso ele tivesse esquecido, né?
O resultado foi uma simples pergunta: “Então quando podemos priorizar isso?” A minha resposta foi: quando o time estiver completo novamente, o que só seria verdade na sprint seguinte (duas semanas depois). Além disso, também falei que para implementar o que ele queria, só conseguiríamos entregar no fim da sprint, ou seja, algo que era para ser entregue em 7 dias corridos ficou para ser entregue em 4 semanas. Sim, ele aceitou, pois viu que não tinha capacity para absorver a demanda.
Com o tempo você vai entendendo o jogo. Não caia nessa cilada de que você não deve fritar pastel. Isso pode fazer você criar uma expectativa que não se encaixa na realidade e te levar a ficar frustrado ou com um sentimento de que não é bom o bastante. Existem PMs buscando por uma empresa e área de produto utópicos, os quais só vemos nos livros do Cagan e em propaganda para vender cursos.
Frite pastel para não morrer de fome e enquanto frita, tente mudar essa mentalidade de pastelaria aonde você está com comunicação, visibilidade das atividades e questionando a forma como são feitas as coisas.
Frite pastel se isso for resolver um problema do usuário e impactar o negócio!