A felicidade é um conceito vasto e multifacetado que tem sido objeto de estudo em diversas áreas, incluindo psicologia, filosofia, e economia. No campo do trabalho, cresce a busca por um ambiente onde as pessoas se sintam felizes e trabalhem com bem estar. É responsabilidade das empresas cultivar esses espaços.
Em uma série de artigos, exploraremos diferentes perspectivas sobre a felicidade, abordando, por exemplo, como a comparação social, o julgamento, os tipos de amizade, e a busca por dinheiro e poder influenciam nosso bem-estar.
Baseado em pesquisas acadêmicas, teorias científicas e cases referência, discutiremos não só como as pessoas podem navegar melhor esses aspectos para alcançar uma vida mais satisfatória e feliz, mas principalmente como as empresas, lideranças e RH podem impulsionar estes elementos em suas organizações, as transformando genuinamente em melhores lugares para se trabalhar.
Comparação Social e Felicidade
A comparação é uma parte inevitável da experiência humana e desempenha um papel significativo na nossa percepção de felicidade. Se você pedisse na terapia para ter uma daquelas sessões de regressão, tenha certeza que, desde ainda bebê, você esbarraria em exemplos onde se comparou ou onde alguém te comparou contra outras pessoas. Isso porque comparar é tão humano quanto respirar, e as ciências sociais já se dedicam a estudar esse assunto e como ele impacta o nosso bem estar e felicidade há algum tempo.
Um fenômeno interessante é o "Momento da Medalha de Prata", onde estudos mostram que medalhistas olímpicos de prata frequentemente relatam menos felicidade do que medalhistas de bronze. Isso ocorre porque os medalhistas de prata tendem a se comparar com os vencedores da medalha de ouro, sentindo que "quase" conseguiram o primeiro lugar. Em contraste, os medalhistas de bronze frequentemente se comparam com aqueles que não ganharam nenhuma medalha, o que os faz valorizar mais sua conquista.
Teoria da Comparação Social
A teoria da comparação social foi proposta por Leon Festinger em 1954 e sugere que, em um momento de autoavaliação, as pessoas tendem a comparar suas próprias capacidades e opiniões com as de outras pessoas em semelhantes contextos. Por exemplo, se você é uma pessoa de produto financeiro em um banco, pode já ter comparado o resultado do seu produto com o de outros produtos financeiros dentro da mesma empresa, ou a um produto igual ao seu em uma empresa concorrente.
Segundo Leon, a comparação acontece com ainda mais peso em situações onde existem incertezas sobre o nosso domínio dos elementos e assuntos. Ou seja, se você é uma pessoa de produto em início de carreira, ou está lidando pela primeira vez com um produto desconhecido, provavelmente o critério da comparação vai pesar ainda mais na sua autoavaliação.
A teoria explica que existem dois principais vetores para a comparação acontecer.
- Comparação Ascendente: Quando nos comparamos com quem percebemos em uma posição melhor (em termos de salário, status, reconhecimento, etc.). Embora isso possa servir como motivação para melhorar, também pode gerar sentimentos de inveja, inadequação e insatisfação.
- Comparação Descendente: Quando nos comparamos com quem percebemos estar em uma posição inferior. Isso pode aumentar a autoestima temporariamente, mas também pode levar a uma falsa sensação de segurança e complacência.
Como podemos perceber, não existe um cenário 100% positivo em nenhum desses vetores. Nesse momento você pode estar pensando que “se eu olhar pela perspectiva certa, eu consigo usar a comparação para me inspirar (querer aprender) ou para melhorar minha autoestima.” E sim, a perspectiva é fundamental, mas traz o desafio de estarmos sempre confortáveis emocional e psiquicamente para garantir que esta perspectiva não seja afetada por vieses e agentes externos que geram contextos de insegurança psicológica.
Nesse sentido, vale o convite para uma terceira perspectiva. Em vez de constantemente se medir contra outras pessoas, é mais produtivo focar nas próprias conquistas e no progresso pessoal. Tal perspectiva pode reduzir sentimentos de inveja e insegurança, e aumentar a satisfação com o que se tem, tudo ao mesmo tempo.
Driblando a comparação no trabalho
Para buscarmos a felicidade no trabalho, precisamos trabalhar os elementos que a afetam dentro do contexto organizacional. Quando falamos de comparação, RH’s e Lideranças podem adotar estratégias que incentivem suas pessoas a desconstruir os pilares de uma comparação tóxica, indo ao encontro da colaboração e autoestima, que gera empoderamento e maturidade nos produtos.
- Promoção de uma Cultura de Apoio e Colaboração: Incentivar uma cultura onde o sucesso individual seja visto como parte do sucesso coletivo pode ajudar a reduzir comparações destrutivas. Programas de reconhecimento coletivo, por exemplo, podem reduzir o foco nas comparações individuais.
Ei, Líder: você não precisa esperar reformularem todo o modelo de avaliação para implementar ações neste sentido. Ao oferecer feedback construtivo e apoiar o desenvolvimento profissional, as lideranças podem ajudar a transformar comparações sociais potencialmente negativas em oportunidades de crescimento.