A empresa precisa mesmo de uma pessoa Product Manager?

Não é clickbait. Ter um profissional de Produto pode ter funcionado para a empresa do lado, para a startup X ou big tech Y, mas talvez não talvez não funcione na sua empresa.

A empresa precisa mesmo de uma pessoa Product Manager?
Photo by Daniel Gorozpe / Unsplash

Product Manager é um cargo que tem extrema importância em muitos cenários. Pode ser um profissional fundamental na sua empresa, pode ajudar os times a "virar o jogo" seja ele qual for, pode dar insights e colaborar positivamente em diversas verticais. Ou não.

Product Management: a ascensão

Nos últimos anos vimos a ascensão e popularização dessa "nova" profissão: notícias em blogs, presença em meetups, livros e mais livros, cases de sucesso utilizando frameworks com um nome legal e impactante em inglês, vagas nas startups, vagas nas big techs, lugar garantido nos squads. Enfim, um mundo de possibilidades e que talvez nem tenha listado todas aqui.Com isso, vimos um movimento grande e diverso de migração para a área: Product Owners, gestores de projeto, designers, desenvolvedores, analistas, salesperson, marketeiros e até pessoas de áreas consideradas mais distantes.

Todo esse movimento foi e ainda é importante para o crescimento e amadurecimento do mercado, das empresas, dos cursos e do mercado em si.

E é exatamente esse amadurecimento ganho através de tantos erros e acertos nos últimos anos que nos permite refletir sobre a real necessidade de ter uma pessoa de Produtos na empresa.

Eu faço gestão de produtos?

Antes de tudo, aqui vale um ponto de atenção: cuidado para não confundir a bagunça (saudável e esperada) do dia dia do seu trabalho com a síndrome do impostor. Pensando nisso, adicionei em cada item uma nota pra tentar lhe ajudar a refletir melhor sobre os argumentos sem cair nesse buraco terrível, ok?! :)

Provavelmente você já leu ou ouviu alguns relatos (e até memes) de profissionais de produto que, ao que tudo parece, podem não exercer realmente a gestão de um ou mais produtos na maior parte do tempo. Vejamos alguns casos:

PM tirador de pedido

Existe aquela famosa expressão pejorativa de "PM tirador de pedido", onde o trabalho da pessoa mais parece o de uma gestora de projeto trabalhando duro nos desejos dos stakeholders, status report e todo o esforço de gerir o projeto do início ao fim.
Nota: Sim, o famoso projeto top-down existe e faz parte, mas deveria ser uma exceção e não uma regra (ou deveria ser trabalho de um Project Manager).

PM Designer

O PM que é quase UX Designer/Research, atuando 100% do tempo em processos infinitos de Discovery, usando diferentes métodos e frameworks, mas esquecendo na parte do Delivery, e consequentemente, sem realmente entregar resultados concretos.

Nota: Discovery é importantíssimo, mas não faz sentido sem Delivery. Essa nota será bem maior porque vou sugerir de forma geral como pode ser a atuação no Delivery: Obtenha e priorize os insights vindos do Discovery, defina o problema ou oportunidade a ser atacada e um objetivo claro, ajude o time a entender o que é uma versão pequena e rápida que trará aprendizado. Também defina os resultados esperados, conduza o desenvolvimento, soft launch e encerramento e mensuração do teste, repita o fluxo. Prefira 3 ciclos pequenos de Discovery/Delivery do que 6 meses de Discovery e mais 6 de Delivery (waterfall)?

Afinal, o resultado final desejado é um produto nas mãos dos usuários, certo?

Tech Lead quase PM

Existem PMs que acabam mergulhando em cada detalhe dos aspectos técnicos, e inclusive tomando as decisões técnicas qual linguagem usar, qual banco de dados, qual recurso da nuvem, etc. Isso não seria um problema se tivéssemos a capacidade de trabalhar e estudar por 87 horas seguidas. Se a PM está focando nos detalhes técnicos, quem está olhando para os detalhes do produto?

Nota: Não confunda; além da especialidade de Tech PM, existem produtos altamente técnicos que exigem uma expertise e um dia a dia diferente, como por exemplo produtos de API e/ou AI. Mas, mesmo assim, o principal foco deve ser o produto em si e a troca de valor com os usuários.

Será que a empresa não precisa de mim?

Olha, provavelmente precisa. Mas pode ser que não, e não é culpa sua.

Então, voltamos à pergunta inicial: a empresa precisa mesmo de uma pessoa Product Manager?

Com toda essa ascensão e glamour da área de produtos, muitas empresas ainda não entendem realmente o papel dessa área. Outras acham que entendem, outras nem se esforçam para entender, apenas abrem a vaga e contratam para entrar na onda.

Os resultados disso são vagas com descritivos e requisitos incoerentes, profissionais contratados e infelizes, quebra de expectativa após os primeiros meses de contratação, falta de resultado, em resumo: frustração para todos.

Mas o que realmente faz uma área e uma pessoa de produto?

Bom, essa pergunta renderia alguns posts, e a resposta você também pode encontrar navegando aqui mesmo dentro do Product Oversee, que possui conteúdos escritos por profissionais referências da área no Brasil e podem te ajudar a entender o cenário macro, além de uma newsletter com conteúdos riquíssimos. Deixo também aqui alguns livros que podem lhe ajudar um pouco a entender melhor a área de produtos:

5 Sinais de que a empresa NÃO está preparada para ter um profissional produteiro

Possui uma lista de projetos prontos para especificação e construção:

Se já existe uma lista de projetos para o próximo ano, onde em cada item já se tem clareza sobre “o que, quando e como” algo deve ser construído, é necessário um time que execute o projeto da melhor forma possível e é isso. Colocar uma pessoa de produto nesse processo trará questionamentos e propostas de validações para remover riscos e incertezas, e podem ou não mudar completamente o escopo e prioridades.

Não assimila um aprendizado como resultado:

Diversas entregas dos times de produto são intangíveis: um aprendizado, uma experiência, uma informação, a descoberta do próximo passo ou até mesmo uma falha.

Por vezes, semanas de trabalho podem resultar numa frase, porém, pode ser uma frase com um conteúdo mais valioso do que de um software que teria sido construído durante esse período.

Já imaginou um time da Blockbuster ter como resultado de uma Sprint a seguinte frase: "nossos clientes querem escolher, alugar e assistir o filme sem sair de casa"?!

Não aceita protótipos e MVPs:

Cada vez mais é necessário testar, aprender e (in)validar mais rápido. Se a empresa não entende a necessidade de criar pequenas gambiarras (com riscos e ambiente controlado, claro) para entregar valor e aprender o mais rápido possível, provavelmente ainda não entenderam o mundo dos produtos digitais.

Você não tem acesso aos clientes:

Se a empresa diz que você "não pode falar com o usuário" seja lá pelo motivo que for, ou pior, que "já sabe o que os usuários pensam", com certeza está deixando algum valor de lado.
Nós não somos nossos usuários, nunca. Usuários são seres únicos que sentem a real necessidade deles mesmos, e ao contrário da empresa, não possuem uma visão enviesada do produto.

Não faz sentido trabalhar um produto na empresa:

Alguns vão dizer que sim, sempre é possível trabalhar um produto digital em qualquer empresa que possui uma frente digital. Porém, talvez nem sempre faça sentido.

Existem agências e softwares houses que faturam muito dinheiro executando os pedidos das empresas, construindo códigos, sites e apps do início ao fim e é isso.Existem empresas que precisam apenas dar manutenção e adicionar uma coisa ou outra naquele velho e enorme legado que ainda sustenta uma operação que lucra muito, e isso não vai mudar tão cedo.

Outras empresas prestam serviços através de softwares (que até poderiam ser produtos) para grandes clientes que pagam tão bem, que vale a pena construir cada linha de código conforme o desejo deles. Vamos ser honestos, se sua empresa ganha rios de dinheiro fazendo software do jeito que o grande banco XYZ pediu, será que você mudaria a forma de trabalhar?

Desistir não faz parte [em alguns casos]

A ideia não é te desencorajar, invalidar seu trabalho, muito menos diminuir a área de produtos: pelo contrário! A área e os profissionais de produto evoluem cada dia mais e vem provando mês a mês, ano a ano, a importância desse papel nesse mundo digital.

Para continuar evoluindo, é preciso que as áreas tenham espaço para trabalhar e se desenvolver ainda mais. É preciso ter espaço para exercer as melhores práticas, para errar, errar de novo até aprender e acertar, para entregar os melhores resultados conforme as centenas de livros, cursos e meetups nos ensinam.

Claro que toda experiência profissional nos traz aprendizado e/ou um bom dinheiro (se não te traz nada disso, acorda!), e por mais conturbadas que sejam, essas passagens nos fazem crescer.

Porém, um dos pontos fortes dos PMs é ajudar a investir melhor o tempo no que realmente faz sentido, então, na medida do possível, por que gastar seu tempo em ambientes onde existe uma "quase gestão de produtos"?

Não tá funcionando? Converse com a pessoa superior a você, seja transparente!

Não conseguiu convencer? Demonstre o valor do trabalho, leve conteúdos, explique, converse, argumente!

Nada deu certo? Procure o próximo desafio e boa sorte!



Inspirado no post Don’t bother hiring a product manager