A Arte do Foco

Foco é um tema universal que amarra algumas coisas fundamentais. E a chave está em ter a perspectiva de diferentes horizontes de tempo, para finalmente conseguir melhor entender, no dia a dia, qual o passo tomar hoje, com maior probabilidade de mover o ponteiro na direção desejada.

A Arte do Foco
Photo by Brett Jordan / Unsplash

Recentemente percebi um tema abrangente que vem sido recorrente para mim. Talvez seja em função da minha jornada para me tornar um essencialista (como descrito no ótimo livro do Greg McKeown), e como tenho tentado ser muito mais intencional em fazer menos coisas, mas levá-las mais adiante.

Acontece que nós, humanos, temos uma capacidade incrível de preencher nosso tempo. É só você pensar em como lidou com a última vez que teve aquele dia completamente livre, e qual foi o resultado. Que fique claro, não há nada de errado em não fazer muita coisa útil em determinados dias, muito pelo contrário, é saudável, pode levar à reflexão, e tantas outras coisas positivas. O ponto é ser intencional, jamais só estar ocupado (somente por estar).

A meta é sempre fazer a coisa certa agora, e depois de novo. Descobrir qual é a coisa certa a ser feita agora é mais uma arte do que ciência exata - e aí está o desafio:

Se você pudesse fazer somente uma coisa, agora, qual seria?

O que faz desta pergunta simples frequentemente tão difícil de responder é porque ela é muito importante e empoderadora, por tratar de foco, mas em qual direção?

Num exercício recente de internalização de um feedback sobre quando falei de foco com meu time, eu descobri um novo enquadramento que acredito que pode ajudar a melhor articular o que realmente significa estar focado, num nível mais prático. Você vai ter que me desculpar pela completa falta de talento para esboçar algo, mas tudo bem, já que o que interessa é o entendimento do que estou tentando comunicar (e sim, eu escolhi minha batalha e resolvi focar na essência…).

O que estou tentando comunicar neste singelo esboço, que poderia ter sido feito pela minha filha de seis anos talvez até com maior maestria, é que foco deve levar pelo menos três primas em perspectiva, para ser mais efetivo:

  • O que define sucesso no longo prazo? Qual é o propósito, para onde estamos direcionados?
  • Então ser capaz de reduzir, e definir resultados de curto e médio prazos que podemos utilizar para avaliar progresso.
  • Para então, finalmente, e quem sabe mais importante, qual a coisa em que posso focar agora que vai nos mover na direção correta?

Tenho plena consciência e apreciação de que isto é muito mais facilmente dito do que feito. Mas precisa começar de algum lugar, e sempre sugerirei começar por onde está, ancorado na realidade. Comece pequeno, aprenda, e continue implacavelmente…

É importante perceber também que este é um processo contínuo e sem final, em que se pode estar ancorado no propósito do horizonte de longo prazo, que guia a definição de metas mais tangíveis para o próximo horizonte de tempo razoavelmente em controle, e que finalmente se executa através de foco afiado no que se pode fazer agora!

Uma das minhas frases favoritas foi uma resposta precisa do escritor G.K. Chesterton à pergunta "o que há de errado no mundo":

"Eu."

Acho ela fascinante porque traz uma reflexão profunda embutida, na minha visão, que é a de, no frigir dos ovos, o que realmente importa é o que eu consigo fazer, ou que pelo menos consigo influenciar. Uma outra forma de conceber esta ideia poderosa, pelo menos no sentido do foco no agora, é esta:

"Já é suficiente a preocupação de cada dia” (Mateus 6:34c)

Mas Chesterton posteriormente complementou sua resposta, num livro que tem como nome justamente a pergunta original, e lá ele apresenta um outro prisma, complementar, e que eu infiro como uma alusão aos horizontes de tempo mais longos a que me referi no meu singelo modelo visual:

"O que há de errado é que não perguntamos (suficientemente) o que está certo."

Articular o que seria "certo", que é sinônimo, no contexto, do que é desejável, ou ideal, trata justamente de ter o senso de direção, e por causa disso possibilitar a definição de critérios (de avaliação) de sucesso.

E curiosamente, meus últimos dois artigos aqui para o Product Oversee têm bastante sinergia com o tema foco:

E se você chegou até aqui, quem sabe com algumas sinapses e pensamentos girando a mil na sua cabeça, talvez venha a perceber que padrões similares se aplicam também em como ter foco na execução de produtos digitais, e como medir sucesso no seu contexto, por exemplo, de um time de produto responsável por alguns componentes ou uma jornada do usuário, sendo que:

  1. O foco de horizonte longo é a conexão com os indicadores de negócio mais fundamentais (ligados ao que gera receita ou economiza custos, na essência);
  2. E então, para o foco de metas, precisa-se entender qual é a teoria, e como se pode medir,  como o seu produto ou componente poderia contribuir para os indicadores de negócios;
  3. E, finalmente, no foco do agora, qual experimento estamos priorizando pois acreditamos ser a melhor hipótese de como mover o ponteiro na direção desejada.

Acredito que este enquadramento de como medir sucesso com a mesma perspectiva de como tratar foco, pode ser muito útil para quando se tem dificuldade de definir precisamente como medir sucesso num time de produto, por exemplo. Mas este artigo já ficou de bom tamanho, então quem sabe numa próxima oportunidade elabore mais sobre isso.