Você provavelmente já percebeu a diferença entre o estado da arte teórico de produtos e a realidade vivida no dia a dia de trabalho.
No fim do dia, há muitas razões pelas quais a realidade da sua empresa pode não atender às suas necessidades para “extrair os melhores resultados”, mas você terá que progredir e praticar sua arte de alguma forma.
Recentemente fiz uma pergunta para colegas seniores de diferentes empresas: “Qual habilidade que você considera valiosa e que não se aprende com teoria?”.
Entre diversas nuances, as respostas convergiram em torno de questões interpessoais, políticas e, sobretudo, humanas. Esse é o desafio que decidi abraçar nesse artigo.
O rei contexto existe em função de sua rainha: compreensão. Você não será capaz de ser intencional sobre o que não é capaz de conceber e enxergar.
Nesse artigo, quero te ajudar a transformar o potencial do seu contexto em cases concretos de sucesso, mesclando conceitos da àrea de produtos com o ouro da ciência comportamental baseada em evidências científicas.
O primeiro passo para alavancar a compreensão
“O primeiro princípio é que você não deve enganar a si mesmo, e você é a pessoa mais fácil de enganar.” - Richard Feynman
Se você está no mercado há algum tempo, provavelmente já ouviu sobre testes A/B em diversas ocasiões, mas quantas vezes você ouviu falar sobre a importância de um teste A/A?
Na maioria das vezes, ao realizar testes A/A, você observará resultados relativamente semelhantes aos do seu teste A/B, que aparentemente indicava sucesso. Como páginas iguais podem indicar diferença de 15% de conversão em relação ao controle?
Existem algumas explicações para essa distinção, mas o ponto é: testes confiáveis exigem, dentre outros fatores, calcular o tamanho da amostra usando power fórmula com uma amostra grande o suficiente.
Você não precisa necessariamente saber estatística para chegar nessa conclusão, mas é necessário encarar com intencionalidade uma postura de “integridade absoluta” como ponto de partida. Desenvolver confiança é essencial para efetividade interpessoal.
Nesse sentido, a “integridade absoluta” vai além de simplesmente não mentir, mas se esforçar ao máximo para mostrar como até mesmo você possa estar errado. Esse é o primeiro passo para alavancar sua compreensão.
Rei e Rainha em harmonia: contexto e compreensão
Considere duas versões diferentes de um prédio: um deles é um desenho artístico do prédio, o outro é uma planta do prédio. Qual é o “desenho verdadeiro"?
Ambos são “representações”, e a perspectiva contextual sustenta não haver um “desenho verdadeiro” em um sentido objetivo.
O desenho mais verdadeiro pode ser determinado somente no contexto dos objetivos e propósitos específicos que se aplicam. Se precisarmos de um desenho para identificar o prédio enquanto andamos pela rua, o desenho em perspectiva seria mais útil e, assim, o “mais verdadeiro” – no sentido de que ele é verdadeiro para esse propósito. O limite dessa perspectiva é a ética.
Em contrapartida, se quiséssemos saber como remodelar o prédio com segurança, a planta provavelmente seria uma representação mais verdadeira. A linguagem cotidiana inclui essa noção de “verdade” – ela não é inteiramente estranha. Por exemplo, quando dizemos que uma flecha foi lançada de forma “certeira”, queremos dizer que ela foi lançada de uma maneira que a fez atingir o alvo.
O cerne da maestria comportamental está na capacidade de compreender o contexto e seus elementos para combinar diferentes perspectivas. A maestria comportamental está em construir consensos em prol do alinhamento de interesses e resultados.
A dialética nos diz que dois pontos de vista opostos podem ser verdadeiros. Por isso, seja firme em suas evidências, mas também esteja aberto a ouvir o outro - e até fornecer hipóteses contrárias para praticar integridade absoluta.
Por exemplo, em tempos de menor liquidez, há uma maior necessidade de buscar previsibilidade e lucros de curto prazo. Porém, focar na prisão de curto prazo gera também riscos. A síntese aqui envolve balancear necessidades imediatas com longo prazo.
Atenha-se aos fatos que podem ser observados pelo grupo e busque dar voz e luz para o que ainda não é consenso e pode ser válido na síntese. É fazer o que funciona enquanto ousa fazer diferente. Em outras palavras, flexibilidade ao interpretar inputs e clareza no que será otimizado.
O que não fazer
"As pessoas vão esquecer o que você disse. As pessoas vão esquecer o que você fez. Mas elas nunca esquecerão como você as fez sentir." - Maya Angelou
Todos os times e indivíduos têm pré-concepções de como as coisas funcionam e como o time de produto age. Mesmo antes de te conhecerem, já existe uma lente no olho de cada um que você não pode tirar (nem se pudesse deveria tentar, afinal de contas você não sabe o que não sabe sobre a história de cada um).
Nosso sistema nervoso funciona por adição, não por subtração. Isso significa que se você despertou algum sentimento negativo em alguma interação, mesmo que não tenha intenção, aquilo não pode ser retirado biologicamente falando.
É claro que uma interação não necessariamente determina um relacionamento, mas aqui vai outro fato muito importante: o cérebro humano tende a dar mais atenção a estímulos negativos do que a estímulos positivos. Para maximizar seu impacto é fundamental mitigar o risco da autossabotagem.
Esse fenômeno é conhecido como viés de negatividade. Isso pode ser resultado da evolução, onde a atenção a ameaças potenciais era crucial para a sobrevivência. Ser feliz não garante a sobrevivência, mas ter medo, sim.
No próximo tópico vamos usar psicologia científica com maior grau de evidência para tangibilizar com mais clareza alguns fatores que atuam limitando nossa capacidade de compreensão e como podemos alavancá-la.
Introdução ao Behaviorismo para gestão de produtos
A seguir uma imagem representando a hierarquia de confiança na ciência: