Tem rolado nos últimos dias um assunto super polemico sobre a "morte dos agilistas" ou do ágil. Não é um assunto novo, pelo contrário, enxergo esse movimento há uns 4 anos pelo menos, mas agora parece que ganhou tração. O texto do maravilhoso George Guimarães disse no post foi bastante certeiro. O post do Yoshima, trazendo o outro lado, também. Mas sempre é bom conectar assuntos e ideias sobre temas importantes e interessantes como esse.
Processos Ágeis ou seja lá qual for o nome que você use no seu dia a dia, nasceu dentro da tecnologia. Nasceu por programadores altamente técnicos, que sabiam o impacto que o seu trabalho tinha sobre o negócio e as pessoas que usavam seus softwares. O Ágil não nasceu para potencializar o negócio. Não nasceu para diminuir custos de operação. Não nasceu para estabelecer um padrão de trabalho para todos os times de uma mesma empresa. Pelo contrário: nasceu para que programadores pudessem entregar melhor, mais rápido e sem tantos bloqueios.
Eles sabiam que mudanças de escopo aconteciam a todo momento e por isso eles precisavam se adaptar à essas mudanças de escopo. Logo, não daria para entregar um software completo só no final do trimestre. Eles precisavam entregar pequenas porções funcionais e com resultado.
TL:DR;
O texto é longo, portanto, se quiser um resumo, básico e polêmico, seguem alguns bullet points:
- Agile não morreu, só está sendo usado de um jeito errado, mas vai evoluir forçado;
- Pessoas confundem processo de produto com processo de projeto. Duas coisas diferentes que coexistem e devem ser usadas conforme o momento na construção de produtos;
- Agile é tudo sobre gestão, assim como projeto e produto;
- ProductOps obteve sucesso em vários pontos sobre o ágil, principalmente na questão de "escalar ágil para toda empresa";
- ProductOps vai comer agilidade, SE ProductOps focar em processo para geração de resultado para o negócio. Para mim agile está contido em ProductOps;
- ProductOps vai comer projeto, SE ProductOps ser uma extensão da estratégia;
- ProductOps vai liderar produto, SE ProductOps trabalhar no nível tático, com pouca interferência ativa no executivo E se for incorporado como habilidade nas pessoas que gerem o produto (tech, design, PMs, etc);
Um pouco de história para criar contexto
Um pouco de história nunca é demais e serve para criar contexto. Pula pro próximo se você sentir que já conhece isso tudo.
Primeiro, é importante que você entenda que o pensamento do que chamamos de Agilidade hoje, veio de princípios e padrões de boas práticas de desenvolvimento de software. É muito comum que ao pesquisar sobre Agilidade ou Movimento Ágil, você leia referências sobre o Manifesto Ágil. O Manifesto Ágil foi escrito por programadores mais do que reconhecidos no mercado. Todos eles impactaram de forma muito ampla o mercado de desenvolvimento de software em uma escala global, disseminando práticas, métodos e boas práticas técnicas de construção de software complexos. Você pode ver o nome de todos eles lá no site do Manifesto Ágil, mas segue a lista aqui:
- Dave Thomas
- Kent Beck
- Mike Beedle
- Arie van Bennekum
- Alistair Cockburn
- Ward Cunningham
- Martin Fowler
- James Grenning
- Jim Highsmith
- Andrew Hunt
- Ron Jeffries
- Jon Kern
- Brian Marick
- Robert C. Martin
- Steve Mellor
- Ken Schwaber
- Jeff Sutherland
Eles não são qualquer um. Muitos dos livros mais conhecidos, fundamentalmente técnicos, que pessoas de tecnologia e programadores leem, vem desses caras.
Todas essas 17 pessoas já estavam trabalhando com "agile" muito tempo antes de existir esse manifesto, pois todos eles, de alguma forma, entendiam que o ambiente de construção de software é complexo e por isso tentavam praticar processos para diminuir a complexidade do trabalho. O interessante é que as práticas que eles já seguiam tinham em comum:
- Eram baseadas em ciclos curtos de desenvolvimento;
- Eram baseadas em ciclos de feedbacks recorrentes;
- Focadas em entregar pequenos pedaços de software funcionando;
- Focadas em uma estrutura e organização flexível a imprevistos e mudanças de prioridade;
Procurando pela internet você vai encontrar uma série de vídeos, como o Dave Thomas e artigos que descrevem como essa reunião lendária aconteceu. O meu predileto é um vídeo incrível que o maravilhoso Akita gravou, explicando seu próprio ponto de vista (que eu concordo mais do que 100%) sobre como o mercado deturpou o real sentido da Agilidade. As Transformações Digitais estão aí para provar a cegueira generalizada. O primeiro valor do manifesto é "Indivíduos e interações em vez de processos e ferramentas", e a primeira coisa que uma grande empresa faz nas transformações digitais é contratar uma consultoria ultracara para implementar Processos e Ferramentas. Não faz sentido.
Para que você se destaque da média (de PMs e inclusive Agilistas) sobre esse assunto, tenha em mente uma coisa: Metodologias Ágeis são, na verdade, boas práticas de desenvolvimento de software, com o intuito de gerir melhor o contexto complexo de entrega de software.