Processo é potencializador, não o resultado final. Meu pitaco sobre a pseudo-morte do Agile

Agile não morreu. Projeto é processo. ProductOps vai tomar conta de tudo... mas só se aprender com o passado.

Processo é potencializador, não o resultado final. Meu pitaco sobre a pseudo-morte do Agile
Photo by Kaspars Eglitis / Unsplash

Tem rolado nos últimos dias um assunto super polemico sobre a "morte dos agilistas" ou do ágil. Não é um assunto novo, pelo contrário, enxergo esse movimento há uns 4 anos pelo menos, mas agora parece que ganhou tração. O texto do maravilhoso George Guimarães disse no post foi bastante certeiro. O post do Yoshima, trazendo o outro lado, também. Mas sempre é bom conectar assuntos e ideias sobre temas importantes e interessantes como esse.

Processos Ágeis ou seja lá qual for o nome que você use no seu dia a dia, nasceu dentro da tecnologia. Nasceu por programadores altamente técnicos, que sabiam o impacto que o seu trabalho tinha sobre o negócio e as pessoas que usavam seus softwares. O Ágil não nasceu para potencializar o negócio. Não nasceu para diminuir custos de operação. Não nasceu para estabelecer um padrão de trabalho para todos os times de uma mesma empresa. Pelo contrário: nasceu para que programadores pudessem entregar melhor, mais rápido e sem tantos bloqueios.

Eles sabiam que mudanças de escopo aconteciam a todo momento e por isso eles precisavam se adaptar à essas mudanças de escopo. Logo, não daria para entregar um software completo só no final do trimestre. Eles precisavam entregar pequenas porções funcionais e com resultado.

TL:DR;

O texto é longo, portanto, se quiser um resumo, básico e polêmico, seguem alguns bullet points:

  • Agile não morreu, só está sendo usado de um jeito errado, mas vai evoluir forçado;
  • Pessoas confundem processo de produto com processo de projeto. Duas coisas diferentes que coexistem e devem ser usadas conforme o momento na construção de produtos;
  • Agile é tudo sobre gestão, assim como projeto e produto;
  • ProductOps obteve sucesso em vários pontos sobre o ágil, principalmente na questão de "escalar ágil para toda empresa";
  • ProductOps vai comer agilidade, SE ProductOps focar em processo para geração de resultado para o negócio. Para mim agile está contido em ProductOps;
  • ProductOps vai comer projeto, SE ProductOps ser uma extensão da estratégia;
  • ProductOps vai liderar produto, SE ProductOps trabalhar no nível tático, com pouca interferência ativa no executivo E se for incorporado como habilidade nas pessoas que gerem o produto (tech, design, PMs, etc);

Um pouco de história para criar contexto

Um pouco de história nunca é demais e serve para criar contexto. Pula pro próximo se você sentir que já conhece isso tudo.

Primeiro, é importante que você entenda que o pensamento do que chamamos de Agilidade hoje, veio de princípios e padrões de boas práticas de desenvolvimento de software. É muito comum que ao pesquisar sobre Agilidade ou Movimento Ágil, você leia referências sobre o Manifesto Ágil. O Manifesto Ágil foi escrito por programadores mais do que reconhecidos no mercado. Todos eles impactaram de forma muito ampla o mercado de desenvolvimento de software em uma escala global, disseminando práticas, métodos e boas práticas técnicas de construção de software complexos. Você pode ver o nome de todos eles lá no site do Manifesto Ágil, mas segue a lista aqui:

  • Dave Thomas
  • Kent Beck
  • Mike Beedle
  • Arie van Bennekum
  • Alistair Cockburn
  • Ward Cunningham
  • Martin Fowler
  • James Grenning
  • Jim Highsmith
  • Andrew Hunt
  • Ron Jeffries
  • Jon Kern
  • Brian Marick
  • Robert C. Martin
  • Steve Mellor
  • Ken Schwaber
  • Jeff Sutherland

Eles não são qualquer um. Muitos dos livros mais conhecidos, fundamentalmente técnicos, que pessoas de tecnologia e programadores leem, vem desses caras.

Todas essas 17 pessoas já estavam trabalhando com "agile" muito tempo antes de existir esse manifesto, pois todos eles, de alguma forma, entendiam que o ambiente de construção de software é complexo e por isso tentavam praticar processos para diminuir a complexidade do trabalho. O interessante é que as práticas que eles já seguiam tinham em comum:

  • Eram baseadas em ciclos curtos de desenvolvimento;
  • Eram baseadas em ciclos de feedbacks recorrentes;
  • Focadas em entregar pequenos pedaços de software funcionando;
  • Focadas em uma estrutura e organização flexível a imprevistos e mudanças de prioridade;

Procurando pela internet você vai encontrar uma série de vídeos, como o Dave Thomas e artigos que descrevem como essa reunião lendária aconteceu. O meu predileto é um vídeo incrível que o maravilhoso Akita gravou, explicando seu próprio ponto de vista (que eu concordo mais do que 100%) sobre como o mercado deturpou o real sentido da Agilidade. As Transformações Digitais estão aí para provar a cegueira generalizada. O primeiro valor do manifesto é "Indivíduos e interações em vez de processos e ferramentas", e a primeira coisa que uma grande empresa faz nas transformações digitais é contratar uma consultoria ultracara para implementar Processos e Ferramentas. Não faz sentido.

Para que você se destaque da média (de PMs e inclusive Agilistas) sobre esse assunto, tenha em mente uma coisa: Metodologias Ágeis são, na verdade, boas práticas de desenvolvimento de software, com o intuito de gerir melhor o contexto complexo de entrega de software.

E é aqui que a coisa desanda