Tenho o privilégio de ter um time que é incansável na busca por conhecimento. Nós admitimos abertamente nossas incompetências e por isso fixamos 1 hora toda semana para estudarmos juntos. Significa que temos tempo sobrando e aí aproveitamos para estudar? Que dó!
Cada minuto é precioso para terminar aquela especificação dos PBIs da próxima sprint, para registrar um card no Azure DevOps, para finalizar aquela comunicação de novas funcionalidades e por aí vai… então não, não temos tempo sobrando. Mas sabemos que para performar nessas atividades listadas acima (e outras infinitas), precisamos estudar e adquirir repertório. Estudar também é gestão de risco!
Se o seu argumento era que você não tinha tempo para estudar, então este artigo aqui é para te fazer levantar da cadeira mesmo e propor movimentos de estudo em grupo. E por isso quero lançar o desafio: faça um Clube do Livro do livro da Melissa Perri, o Escaping the build trap.
Além de explicar a dinâmica (que é muito simples), vou compartilhar como foi as discussões com o meu time ao longo dessa jornada.
Sobre o Clube do Livro
Já praticamos o movimento de Clube do Livro dentro do nosso time de produtos (eu + 1 Product Manager + 1 Product Designer) há mais de um ano. É uma prática que fomenta a leitura e o desenvolvimento individual. Neste ano, nossa meta é ler 6 livros de produto em conjunto e debater sobre os pontos mais relevantes para cada um.
Em Janeiro escolhemos o livro Escaping the build trap da Melissa Perri pois foi um livro bastante citado na edição de 2022 do Product Camp Brasil.
Como funciona nossa dinâmica e como você pode fazer aí também:
- Defina 1 livro para ser lido, do início ao fim, dentro de um mês
- Planeje 4 encontros, de 1 hora cada, de preferência uma vez por semana
- Escolha um dia na semana e comprometa-se com todos do time qual será o conteúdo que deverá ser lido para ser discutido no encontro. A leitura é obrigatória!
- Sempre que possível, durante os encontros, defina pelo menos uma ação para ser aplicada na rotina para colocar a teoria em prática
Para o Escaping the build trap, dividimos o conteúdo da seguinte forma:
Encontro 1/4:
PART I | The Build Trap
1 | The Value Exchange System
2 | Constraints on the Value Exchange System
3 | Projects Versus Products Versus Services
4 | The Product-Led Organization
5 | What We Know and What We Don’t
PART II | The Role of the Product Manager
6 | Bad Product Manager Archetypes
7 | A Great Product Manager
8 | The Product Manager Career Path
9 | Organizing Your Teams
Encontro 2/4:
PART III | Strategy
10 | What Is Strategy?
11 | Strategic Gaps
12 | Creating a Good Strategic Framework
13 | Company-Level Vision and Strategic Intents
14 | Product Vision and Portfolio
Encontro 3/4:
PART IV | Product Management Process
15 | The Product Kata
16 | Understanding the Direction and Setting Success Metrics
17 | Problem Exploration
18 | Solution Exploration
19 | Building and Optimizing Your Solution
Encontro 4/4:
PART V | The Product-Led Organization
20 | Outcome-Focused Communication
21 | Rewards and Incentives
22 | Safety and Learning
23 | Budgeting
24 | Customer Centricity
25 | Marquetly: The Product-Led Company
Afterword: Escaping the Build Trap to Become Product-Led
E pronto! Simples assim! Fizemos este mesmo movimento para diversos outros livros, como:
- O teste da mãe
- Inspired
- PBB (Product Backlog Building)
- Lean Inception
- Design do dia a dia
- Storytelling com dados
- Sprint
- e outros…
Resumo dos encontros
Encontro 1/4
Quero dar destaque à dois pontos que são bastante comentados nas partes I e II:
- Entrega de funcionalidades não significa sucesso e
- É preciso entender o cliente.
Ao longo dessas duas partes, Melissa Perri explana muito bem os assuntos destacados anteriormente. Nada de novo sob o sol, né? Não somos pastelaria para tirar pedido e precisamos interagir com nossos usuários. Ela também destaca que para atuar nesses dois pontos é necessário que a empresa como um todo tenha uma cultura de produto e que isso fica mais difícil de ser trabalhado quando não tem, seja porque a cultura é voltada para vendas, tecnologia ou qualquer outra. Particularmente, tenho percebido que a comunicação deve ser redobrada em casos que a cultura de produto ainda está em construção; você vai precisar de muitos momentos e materiais de conscientização e posicionamento do produto para os times!
Alguns indícios de que não temos uma cultura de produto é quando destacamos apenas o trabalho de especificação de um PM e não o tempo dedicado em conversar com o usuário, é quando nos preocupamos apenas com a sprint entregue no prazo e não com a utilização real da funcionalidade ou produto, é quando medimos a quantidade de itens novos em produção e não analisa-se o comportamento de uso e por aí vai, né?
Mas uma boa maneira de começar a contornar isso, segundo Melissa, é o “Start with Why”. Começar sempre perguntando o porquê, "Por que mesmo fazer esse projeto?", "Como medir o sucesso?", "E se o usuário não quiser a solução?", "Como estamos mitigando esse risco?" e etc. São perguntas simples, mas que ajudam a reforçar o porquê estamos fazendo o nosso trabalho.
De forma resumida, essa primeira parte foi uma leitura com muito assunto e dores já conhecidas. É uma leitura leve, mas que gera incômodo, sabe? Você lê e pensa "Puts! Posso fazer diferente em tal processo".
Encontro 2/4
Se nos capítulos anteriores as palavras “cliente” e “usuário” foram as que mais se destacaram, nesta parte do livro podemos dizer que as que mais apareceram foram estratégia e visão. E se fosse destacar alguns trechos do livro para explicar o que é estratégia, recomendaria estes dois aqui:
“Good strategy isn't detailed plan. It's a framework that helps you make decisions.
Strategies are interconnecting storie told troughout the organization that explain the objective and outcomes, tailored to a especific time frame.”
Em uma tradução literal:
“Uma boa estratégia não é um plano detalhado. É uma estrutura que ajuda você a tomar decisões.
Estratégias são histórias interligadas contadas por toda a organização que explicam o objetivo e os resultados, adaptados a um período de tempo específico.”
Ou seja, estratégia não é só palavras bonitinhas que representam algo abstrato, pelo contrário, é algo concreto que direciona todos os times em busca de um resultado e um detalhe importante: não é para o resto da vida, é dentro de um período específico de tempo.
Melissa também traz que podem existir alguns GAP’s nas estratégias das empresas que acabam levando-as contra os resultados esperados, que são:
- GAP do conhecimento: diferença entre o que nós gostaríamos de saber e o que nós realmente sabemos
- GAP do alinhamento: diferença entre o que nós queremos que as pessoas façam e o que elas realmente estão fazendo
- GAP do resultado: diferença entre o que esperamos que nossas ações gerem de resultado e o que de fato acontece
E adivinhem só de onde vem a inspiração para conseguir definir uma boa estratégia e mitigar os gaps? Se você respondeu: sistema de gestão da qualidade Toyota, ou outro semelhante, você me deixou mais feliz (rsrs).
Faça um ciclo iterativo de definição e execução:
- Tenha claro para onde seu negócio está querendo ir,
- Entenda a situação atual,
- Escolha o caminho a seguir,
- Em seguida, é mão na massa e experimentação.
Não deu certo? Retome novamente desde o início.
Deu certo? Então comece desde o início também para tornar isso processual e não sorte.
Encontro 3/4
Ao ler estes capítulos, lembrei muito do livro O teste da mãe. Mas por quê? Por que não podemos focar primeiro na solução, temos que nos aprofundar muito em qual é o problema para depois pensarmos em uma solução. É a clássica história de "não é só um botão".
Também ficamos com o coração quentinho ao ver o conteúdo sobre métricas de produto, que na tradução literal diz o seguinte:
"As métricas do produto informam o quão saudável é o seu produto e, em última análise, o seu negócio, uma vez que um produto saudável contribui para a saúde geral do negócio. Eles são a força vital de todo gerente de produto. Manter um pulso em seu produto é crucial para saber quando você deve agir e onde."
Nessa parte de métricas foi explanado os frameworks mais conhecidos: Pirate Metrics e The HEART Framework. E o mais legal para nós foi ela abordar o assunto de empresas no cenário B2B utilizando essas métricas. Como se trabalha neste tipo de mercado, item que sempre sentimos muita falta de conteúdos relevantes sobre o assunto.
Também foi destacado algumas formas de experimentação e que com certeza você deve se lembrar do livro Inspired do nosso (apelidado por nós) Martinho, vulgo Marty Cagan:
- Concierge
- Wizard of Oz
- Concept Testing
Todos eles são utilizados para gerar aprendizados e mitigar riscos. E é óbvio: tudo isso precisa ser testado com o SEU CLIENTE. Não é com uma equipe, com sua família ou amigos, é com o seu cliente real. Portanto o puxão de orelha aqui é o seguinte: converse mais com seus clientes!
Melissa destaca novamente que isso tudo funciona harmonicamente em uma empresa que tem uma cultura orientada a produtos de verdade. Tudo pode contribuir a favor! E quando não é orientada a produtos? Bom... essas são as lutas que precisamos lutar todos os dias, meus caros produteiros.
Encontro 4/4
Nestes capítulos finais Melissa reforça mais uma vez sobre a importância de uma cultura orientada a produtos e traz o exemplo da Kodak que tinha um centro para inovações em produtos, mas que acabou sendo "sabotado" pela empresa por não ter essa cultura. Em outras palavras, podemos dizer o quanto é importante o trabalho sistêmico para que não sejam trabalhos isolados e que podem ser facilmente ignorados/descartados.
Um pouco mais a frente, a autora também traz alguns conceitos bastante conhecidos no mundo dos produteiros que ajudam a fomentar cada vez mais essa cultura de produtos, que são:
- Cadência de comunicação
- Roadmap
- Versões de teste dos produtos (Experiment, Alpha, Beta, Generally Available (GA))
- Product Operations
- Mitigação de riscos
Nada de novo sob o sol, né amigos produteiros?
Por fim, Melissa também apresenta uma lista de 6 perguntas para te fazer refletir sobre como está a cultura de produto na sua empresa e gostaria de te convidar para fazer o exercício e responder aí:
- Quem surgiu com a última feature ou ideia de produto que você construiu?
- Qual foi o último produto que você decidiu matar?
- Quando foi a última vez que você falou com seus clientes?
- Qual é o seu objetivo?
- No que você está trabalhando atualmente?
- Como são seus gerentes de produto?
Livro bom é que o livro joga as coisas na nossa cara mesmo (rsrs).
Finalizando…
Sem dúvida, o que é mais rico em todos os nossos clubes do livro é a discussão que temos na sala. As vezes viajamos e entramos em discussões que possivelmente não entraríamos se fosse apenas um horário "comum" de trabalho. O que enriquece são as pessoas e não o livro em si. O livro é apenas um norteador!
Por isso, recomendo fortemente que você também participe ou conduza um clube do livro e incentive a educação, o aprendizado e a mão na massa coletivamente. Quando estudamos sozinhos absorvemos muita coisa, quando estudamos e compartilhamos em conjunto, a discussão se torna muito mais rica e podem surgir ideias maravilhosas de projetos e iniciativas para serem conduzidas e transformar os resultados da sua organização.
Escaping the build trap é um livro que super recomendo e que na minha estante de livros tem nota máximo de 5 estrelas. E também aproveito para dizer que tudo depende do momento que cada um está vivendo. Para você que está em início de carreira pode ser interessante por alguma parte específica, para você que já está integrado na área pode preferir outra parte e assim vai... cada um é cada um e cada leitura, no seu momento de vida, também é único! Sugestões para o próximo clube do livro?