Quem me conhece apenas do LinkedIn pode pensar que sou apenas uma jovem good vibes qualquer, espalhando conselhos que eu mesma não aplico nos meus dias.
De fato, se eu escrevesse esse tipo de conteúdo quando adolescente, estaria sendo bem hipócrita. Eu era a típica pessoa ansiosa e insegura, que remoía cada decisão que precisava tomar e me preocupava com o julgamento alheio. 🤡
Em partes, o que me salvou foi que sempre gostei de ler. Ainda no colégio, eu consumia qualquer livro de filosofia, sociologia e psicologia que encontrava enquanto passeava pelas livrarias em busca de novas ideias para aprender.
Com o passar do tempo, a teoria foi se transformando em prática de vida e passei a adquirir muito gosto, maturidade e liberdade para questionar a cultura em que vivia e minhas certezas pessoais. Fui percebendo lentamente que existiam outras formas possíveis de perceber e viver no mundo, e que eu não precisava estar presa somente às minhas ideias.
Eu poderia me permitir mudar de ideia. Poderia ser menos insegura e ter uma relação melhor com a minha família. Poderia ter mais segurança nas minhas decisões e não me preocupar tanto com a opinião alheia. Poderia me incomodar menos com situações estressantes no trabalho e ter mais harmonia nos meus relacionamentos.
Poderia ter tudo isso, mas sabia que o caminho seria árduo.
Eu estava há duas décadas vivendo da mesma maneira e tinha plena consciência de que não seria em uma semana que tudo modificaria. Afinal, algumas mudanças comportamentais levam tempo para serem sentidas, desconstruídas e ressignificadas.
Alguns ódios, medos, hábitos e ressentimentos levam tempo para serem digeridos. É necessário por vezes um longo e carinhoso processo de identificar que eles nos fazem mal, entender suas raízes, repensar o significado que damos a cada um para, então, podermos construir um olhar mais leve e mais alegre sobre eles.
Foi, enfim, somente em 2018 que resolvi colocar a mente calma como uma prioridade real da minha vida. Comecei a fazer terapia, meditação, curso de autoconhecimento, estudei sobre diversas religiões, filosofias e linhas da psicologia, passei a permitir que minha mente ansiosa pudesse refletir sobre a vida na varanda de casa todos os dias e comecei a escrever muito.
Descobri que realmente não basta se olhar no espelho e repetir palavras quaisquer de afirmação. Não basta dizer que vai ficar tudo bem. E certamente não basta empurrar as dificuldades, os pensamentos dolorosos e as angústias para debaixo do tapete.
Quem resume a jornada de autoconhecimento a uma positividade tóxica descabida não faz a menor ideia do esforço e dedicação necessários para empreender esse caminho.
Infelizmente, porém, muitos são os que ainda acham a terapia algo desnecessário, os que acham autoconhecimento coisa de coach charlatão, e os que pensam que esse é um processo sobre estampar um sorriso no rosto e fingir que tudo está bem, quando na verdade não está.
Porque a verdade é que se autoconhecer dá muito, mas muito trabalho.
Para você ter uma ideia, nesses últimos anos eu me tornei uma observadora incansável dos meus pensamentos e sensações, e passei a refletir e desconstruir cada um deles com muito carinho e paciência, em um caminho que é justamente o oposto da positividade tóxica: parar de tolerar ideias que me fazem sofrer e, ao invés de empurrá-las para debaixo do tapete porque é mais fácil, desmontar uma a uma.
Às vezes precisamos admitir coisas difíceis sobre nós mesmos e olhar com seriedade para traumas do passado. Às vezes encontramos uma resposta racional capaz de aquietar o coração para um certo assunto, mas temos dificuldade de realmente sentí-la pulsar dentro de nós. E em outras tantas, precisamos tirar a ansiedade da frente e aprender a desconstruir um assunto pouco a pouco, sem pressa, para não achar que resolvemos algo quando, na verdade, ele ainda nos persegue sorrateiramente.
Essa é a diferença fundamental entre ter certeza de que estamos buscando uma mente mais calma e nos vermos presos em um ciclo de positividade tóxica. Quando efetivamente desconstruímos aquilo que nos faz mal e construímos uma percepção mais leve de forma sólida e estruturada, sentindo que realmente mudamos um jeito de pensar, a vida vai se tornando mais leve e mais alegre. Vamos deixando de nos incomodar com o que antes nos atormentava e abrindo espaço em nossas mentes para novas sensações serem possíveis diante dos mesmos cenários.
Autoconhecimento não é brincadeira.
Cômico mesmo é achar que reprimir emoções a partir da ideia de que pensamentos positivos devem estar acima de quaisquer outras emoções consideradas negativas é um hábito saudável a ser incentivado. Se estiver em dúvida, busque apoio para empreender esse processo. Terapia, cursos de autoconhecimento e mentorias são todos pontos de suporte que, combinados, tem me feito ter uma mente muito mais calma e, certamente, podem ser ferramentas muito úteis para você também. E qualquer coisa, conte comigo. Estarei sempre por aqui para quem quiser empreender o mesmo caminho.