Como numa escola de samba, onde a harmonia e a evolução dos componentes ditam o ritmo do desfile e podem conferir boas notas ou no pior dos cenários, a perda de pontos, no nosso time precisamos dos mesmos quesitos, que somados a outros, nos garantem a conclusão com êxito de uma Sprint ou a entrega de um Produto/Feature.
Product managers muitas vezes são vistos como referência de liderança dentro do time. Ser visto dessa forma, traz uma carga maior naturalmente, pois as pessoas do time geralmente vão recorrer à PM para tentar resolver os mais diversos problemas e conflitos do dia a dia. Por isso, estarmos preparados para assumir um papel (não posição) de liderança, pode nos ajudar e muito no dia a dia como PM, principalmente quando, durante o nosso desfile (ou sprint ou jornada de entrega) a gente precise gerenciar conflitos se o “samba atravessar”, como diria um Diretor de Harmonia ;).
Então, se desliga de tudo, pega seu tamborim e vem comigo nesse artigo, onde vou tentar te ajudar a não rodar a baiana e estar preparado para ajudar o time na hora que a harmonia desandar dentro do time.
Recuperar rapidamente a harmonia é algo fundamental para não deixar o tempo do desfile estourar e comprometer todo um projeto ou a própria estrutura do time. Ah…o contexto aqui será bem dentro de um time, ok? Vale sempre lembrar que o PM não é gestor de pessoas, é gestor de produto, por isso, não é o time do PM é o time que o PM faz parte. E como qualquer integrante de um time, quando as coisas não vão bem, ele tem o direito e o dever de cobrar para que as coisas voltem ao normal. E se ele não conseguir avanço, aí sim é fundamental que recorra a liderança e em casos mais extremos à área de pessoas.
Pra começar, o que entendemos como “Conflito” e como ele surge?
Uma definição prática de “Conflito” remete a uma luta entre indivíduos de grupos por uma conquista ou objetivo comum, envolvendo tensões, discórdia, guerras, choque de interesses e discordância clara de opiniões.
Ainda segundo a wikipédia, “O conflito surge quando há a necessidade de escolha entre algumas situações que podem ser consideradas incompatíveis. Todas as situações de conflito são antagônicas e perturbam a ação ou a tomada de decisão por parte da pessoa ou de grupos.” Pesadão, né? Pra baixar a tensão, podemos resumir e sintetizar, dizendo que um conflito é uma situação em que duas pessoas ou partes não concordam com uma opinião comum.
Mas no nosso contexto, o que gera um conflito?
São vários os fatores que podem desencadear um conflito interno. Podemos citar a falta de comunicação entre os integrantes do time, ausência de alinhamento entre os caminhos propostos para andamento do projeto, super egos que convergem diretamente, e por aí vai… Pequenos atritos ou discordâncias são normais e esperados ao longo de processos decisórios..só não podemos deixá-los ir muito longe!
Tão importante quanto a descoberta do fator gerador, é a busca por um caminho para que o conflito seja eliminado o quanto antes, e nesse meio, o interesse coletivo para que ele seja resolvido é fundamental! Parece óbvio, mas se todos do time estiverem realmente focados em um objetivo final e comprometidos na conquista daquela entrega, tudo se torna mais fácil!
Identificando o motivo do conflito e buscando sua solução!
Alguns ritos do Scrum não foram criados à toa! Geralmente os conflitos podem ser identificados de forma bem sutil ao longo das Dailys e se potencializam nas Retrospectivas. E é nesse momento que devemos potencializar também nossa percepção!
Não vamos entrar muito nas diversas alternativas e modelos para realização de uma Retrospectiva, mas podemos “provocar” de forma sutil, situações que serão úteis para tomarmos decisões e iniciarmos algumas ações.
Desde o Keep/Change/Try passando por um Sad/Mad/Glad…. não ignore de forma alguma os pontos negativos levantados pelo time. Eles devem ser trazidos à tona nas Retros seguintes, até encontrarmos uma solução.
Como Product Managers, não somos responsáveis diretos pela retrospectiva, mas se você for a pessoa que mais sabe de retrospectiva dentro do time (o que muitas vezes é verdade), você pode sugerir alguma abordagem que possa potencializar que o time se dê feedback mais abertos, por exemplo. Outra dica valiosa, é passar seu conhecimento sobre retrospectivas e mediação para que outras pessoas do time também possam ajudar nas próximas cerimônias que vierem.
O fato aqui é, se um ponto negativo identificado está sendo recorrente nas últimas abordagens, sugira para que se altere o formato para algo mais “light” onde os integrantes do time poderão expressar seus sentimentos de outra maneira, evitando desgastes por algo que você já tem conhecimento.O time não estará esquecendo o “problema”, mas buscando uma nova forma de solucioná-lo.
Outro ponto bastante importante para se considerar é que no final das contas, o time é feito de pessoas, que por si só tem suas próprias emoções e que muitas vezes são potencializadas por problemas que aparecem na nossa vida e que não necessariamente vamos conseguir controlar. O time nessa hora, e principalmente a PM como figura de liderança, precisa exercer empatia e se a confiança estiver alta no time, oferecer ajuda para as pessoas que não estão bem.
Empatia nesse momento é fundamental, porque acontecimentos como esses podem fazer com haja uma tensão em coisas simples como dar e receber feedback, pessoas mais sensíveis e com humor variado em temas e debates simples e discussões que não levam a lugar nenhum. Apesar de serem fatores externos, pois são problemas pessoais das pessoas, podemos e devemos tentar ajudar, afinal somos um time. O ponto aqui é entender se temos abertura para isso ou não e respeitar o momento de cada um.
Sua rotina de 1:1´s está em dia?
Fazer 1:1 também entre integrantes do time e não só líder/liderado é uma ótima oportunidade de construção de confiança entre as pessoas do time. É ideal que seja uma rotina mesmo, numa frequência que vocês podem definir juntos.
Como em muitos casos as pessoas não fazem ou não estão preparadas para 1:1s, você pode puxar a condução da conversa.Particularmente, eu não crio muitos roteiros, o mais importante é que o papo flua descontraidamente e que haja troca de feedbacks quando for necessário. No caso da conversa envolver um potencial envolvido em um conflito já identificado, um exercício valioso é fazer com que as pessoas troquem de lugar umas com as outras.
Perguntas como:
- Você, no papel da outra pessoa, como agiria?
- Por que imagina que a pessoa esteja agindo assim?
- O que sugere, como solução?
Anote tudo e busque priorizar o uso do “Nós” e não do “Eu”, “Ele” ou “Você”. Todo mínimo insight servirá como artefato para te ajudar a pensar em como ajudar o time a resolver os conflitos.
Montanha-russa? Só nos parques!
Dê o exemplo dentro do time e não permita que situações de conflito a qual você está envolvido fiquem mal resolvidas e busque sempre ao máximo resolvê-las em definitivo. Não seja aquele que empurra a poeira pra debaixo do tapete!
Novos conflitos, por outros motivos, podem até surgir…mas não deixe de resolver os antigos! Esses altos e baixos também podem minar a motivação! Não é saudável convivermos com a sensação de que uma crise aparentemente resolvida, pode retornar.
No caso de recorrência dos conflitos, apesar de bem arriscado, você pode sugerir que seja feita uma abordagem de “catarse emocional”. Nessa abordagem reunimos todo o time para uma “Retro sem coração”. Certa vez iniciei uma reunião com a seguinte frase na porta: “Você está aqui porque é importante para o time, mas antes de entrar, deixe seu coração do lado de fora, ok?”
Geralmente se aconselha a participação de algum BP ou pessoa do RH, mediando a conversa porque o ideal é que todos os problemas sejam literalmente jogados na mesa na tentativa de que, em pratos limpos, possamos nos reorganizar e buscar uma saída. Esse é o cenário mais extremo no meu ponto de vista e é super importante aqui, mantermos a Neutralidade, a calma e o controle. Lembre-se que estamos em um time, que está mirando um objetivo comum…todos no mesmo barco!
Melhoria contínua e a busca pela Nota 10!
“Harmonia…nota…9 ponto…..9!”
Como seres humanos estaremos sempre suscetíveis a mudanças comportamentais causadas por diversos fatores que muitas vezes fogem ao nosso controle. Sendo assim, entenda os momentos e as limitações do time que você está.
Vamos buscar sempre o 10 no final da apuração, mas não se lamente por um 9 ponto alguma coisa. Pode ser que nem todos compartilhem da mesma hype animada em toda reunião! Simplesmente..entenda! Se apropriando de ditados ou refrões como “Pegue o limão e faça uma limonada” ou “Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”, aproveite o conflito para criar uma excelente oportunidade de renovação ou recomeço.
Não…nem sempre é fácil! Cada situação ou cenário vai te exigir uma abordagem diferente mas é aí que ganhamos experiência e nos tornamos cada vez mais aptos a fazer do nosso time uma segunda casa!
É isso ai, Product Lovers! Go ahead!
Nos vemos por ai! ;)