Quando li o livro “Turn The Ship Around” (que desconheço tradução ao português) do L. David Marquet, eventualmente concebi uma forma de visualizar o modelo de liderança descrito de forma simples, com uma espécie de metáfora. Isto me ajudou a compreender e absorver os ensinamentos do modelo de liderança do livro de uma maneira muito mais profunda.
Como eu recentemente assumi uma nova função de liderança, numa nova organização, com um novo time, eu decidi evoluir esta experiência pessoal para outro nível, servindo também de uma espécie de experimento. Para tanto, eu desenvolvi uma história de como construir o entendimento do modelo, usando a metáfora e a visualização que já tinha concebido para meu próprio uso. E o feedback inicial foi bastante positivo (por parte dos novos liderados) — incluindo e valendo até mesmo um retweet pela conta da empresa de consultoria do autor do livro, do post que fiz no meu blog/newsletter pessoal, no qual opto por escrever em inglês.
Isso tudo me deixou bastante animado em compartilhar uma versão em português com a comunidade de produto brasileira, através deste artigo no Product Oversee. Então lá vamos nós, e espero que seja útil para alguém (quem sabe para alguns ou até muitos)!
Senta que lá vem a história…
“Construindo A Casa da Excelência”
No nível mais essencial, livre de contexto e aplicável universalmente, eu enquadraria o desafio que qualquer time ou grupo de trabalho deveria encarar como…
… ousar e buscar alcançar a EXCELÊNCIA!...
A questão então se torna como fazer isto, na prática — o que pode ajudar a chegar lá…
Podemos começar pequeno, evitando cometer erros (bestas) — isto seria bacana… Mas impraticável. Somos todos humanos e eventualmente falhamos.
Que tal uma ideia — e se nos dispomos ao aprendizado (contínuo) em caso de tais falhas e não voltarmos a cometê-los!? Não seria ainda mais bacana!?
Podemos cometer erros novos — até aí tudo bem! Mas não repetir aqueles quando já sabemos fazer melhor.
Se isto é verdadeiro, e eu ouso dizer que é, eu suponho que podemos afirmar que…
… Se temos que fazer UMA ÚNICA coisa, que seja: nos comprometermos ao APRENDIZADO (contínuo)…
Esta é a fundação… Ou para começar a ficar mais visual…
Mas precisamos de algo mais tangível e inspiracional, para por como meta! Já que o aprendizado por si só não é suficiente! É muito abstrato — não é um fim em si mesmo, muito mais um meio para algo mais.
Em última análise, queremos que todos possam operar de uma forma altamente autônoma, exercendo sua liberdade (que é conceitualmente melhor que autonomia, mas esta é uma discussão etimológica a qual não vale a pena discutir agora), tomando decisões o mais próximo possível de onde a ação ocorre — porque isto é mais eficiente (ou ágil, se preferir…) e também mais sustentável.
Podemos definir isto como uma noção de controle distribuído… (há algo que requer ser gerenciado e queremos fazer de uma forma distribuída ou federada)
Então, agora temos uma fundação e algo que queremos sustentar (que podemos visualizar como de piso e telhado de uma casa…)
Apenas colocando um sobre o outro, ainda parece um tanto abstrato, não é mesmo!? APRENDIZADO (contínuo) sozinho não consegue sustentar tanto o controle distribuído.
Eis uma sugestão (ou ideia)…
Já, já entramos em detalhes do que pode compor cada pilar, do ponto de vista mais prático…
Porque agora podemos visualizar a figura completa do que se poderia chamar “A Casa da Excelência”…
E finalmente podemos juntar todos os componentes trazendo uma granularidade maior sobre como conceber os pilares, os mecanismos pelos quais se alcança o que se quer alcançar: ousar e buscar alcançar a EXCELÊNCIA…
Com APRENDIZADO (contínuo) sendo aquilo que sempre está lá (i.e., 'ubíquo'), funcionando como um ciclo de retroalimentação (ou feedback) — a cada oportunidade, interação ou momento, se temos que fazer apenas UMA ÚNICA coisa, que seja nos dispor ao APRENDIZADO (contínuo)… Para que assim se…
- Reduza a incerteza…
- Melhore o entendimento…
- Expanda o conhecimento…
- Aumente nossa “capacidade de produção…
- Etc., etc., etc… (Acho que já pegou o espírito da coisa…)
E tal qual numa “casa”, ou qualquer construção, sempre que precisarmos carregar o sustentar um peso maior, no caso de controle distribuído, há uma solução simples para garantir que se possa fazê-lo sem que colapse… Reforçando e tornando os pilares mais robustos…
“Vivendo na Casa da Excelência”
Mas muito mais importante do que visualizar e compreender a construção da “Casa da Excelência”, é como podemos “viver” nela, ou seja, colocar o modelo de liderança em prática. Quem me conhece sabe o quanto eu não acredito em fórmulas prontas e mágicas, então se você esperava aqui algo mais prescritivo, sinto decepcioná-lo — ou melhor, não sinto não, pois, confia em mim, é melhor para você que descubra o seu próprio caminho.
Mas deixo aqui algumas dicas básicas, ou o que estou procurando fazer para tornar tudo isso muito mais uma realidade concreta, não só um modelo conceitual mais ou menos interessante:
- Identificar, apontar e apreciar (ou redirecionar, se for mais o caso) ações que estejam alinhadas — aproveitando também para reforçar, com o uso diário, a linguagem utilizada no modelo.
- e.g., se alguém parece estar operando muito no automático, promover o uso de ação deliberada (como ter que articular porque está fazendo algo do jeito que está fazendo); ou agradecendo alguém que trouxe uma ideia ainda em evolução para a mesa de discussão, no maior espírito “pensando em voz alta”.
- “Sobre-comunicar” (overcommunicate) todos os aspectos ligados ao contexto, propósito, objetivos, etc., fazendo com que nunca nos esqueçamos da conexão do que se está fazendo com o há de maior e no entorno da organização.
- Sondar continuamente para identificar pontos que requerem esclarecimentos ou maior transparência, atuando neles com o compartilhamento de mais contexto, ou até documentando, formalizando algo que possa ser necessário.
- Incentivar a criação de um plano de desenvolvimento pessoal para cada indivíduo, como um mecanismo formal de atuar nas possíveis lacunas de hard ou soft skills.
- Descobrir (ou seja, temos que experimentar e ver o que funciona melhor no nosso contexto) formas leves e descomplicadas de como podemos rememorar, avaliar e consolidar os aprendizados mais relevantes em determinado período, incluindo a troca de experiências dentro e fora da equipe.
E você? O que pensa disso? Suponho que você concorde com a ideia central do que se deve ambicionar, em alcançar a excelência. Mas como você executaria ou está executando isto? Será que este modelo simples não poderia te ajudar a estruturar melhor este processo, como está me ajudando!?
Fica aqui a provocação e quem sabe até algo de inspiração. À (sua) disposição.