Falamos muito sobre hipóteses no dia a dia, principalmente no mundo corporativo, e o que aprendi é que a maioria das coisas da qual falamos não passam de achismos, palpites, especulações ou suposições, se considerarmos que a hipótese é um método científico.
Na gestão de produtos, ou na vida, uma hipótese é um método científico para reduzir as incertezas e possivelmente solucionar um problema. Sendo um conjunto estruturado de argumentos e explicações que possivelmente justificam dados e informações, mas que ainda não foram confirmados por observação ou experimentação.
É a afirmação positiva, negativa ou condicional (ainda não testada) sobre determinado problema ou fenômeno.
Entendendo o Ciclo de Abstração e Tangibilização
Todo processo de resolução de problemas segue um ciclo de Abstração (para motivar) e Tangibilização (para ver se deu certo). Todo processo de resolução de um problema, desde uma doença com a medicina até a gestão de um produto.
Exemplos:
Estratégia (Abstração) - KPIs (Tangibilização)
Oportunidades (Abstração) - Hipóteses (Tangibilização).
Vamos aos 5 passos para criar uma verdadeira hipótese.
- Passo 1 — Declaração do Problema (Tangibilização)
- Passo 2 — Zoom out, Contexto, Cenário, Análise Descritiva (Abstração)
- Passo 3 — Zoom in, Análise Diagnóstica (Tangibilização)
- Passo 4 — Análise Preditiva, Previsões (Abstração)
- Passo 5 — Hipótese, Análise Prescritiva (Tangibilização)
Detalhando os passos
Antes de detalhar sobre os cinco passos, é preciso lembrar do passo ZERO, seja humilde, assuma que não sabe e se apaixone pelo problema.
Passo 1 — Comece pela declaração do problema.
Podemos afirmar que um problema é aquilo que te distancia, ou até mesmo é o vão, a lacuna entre o seu ponto A (onde você está) e o seu ponto B (onde você quer chegar). Normalmente se apresenta como uma dor, um desejo ou uma necessidade. Um problema não tem rosto.
Para identificar o problema você pode utilizar várias formas, mas, aposte no simples "Os 5 Porquês da Toyota".
Escreva o problema, esclareça as ambiguidades.
Exemplo de declaração de problema: O meu paciente está com febre e dor muscular.
Passo 2 — Zoom out, Contexto, Cenário, Análise Descritiva.
A partir do momento em que temos a declaração do problema, iniciamos um processo de zoom out, conhecer o território, entender o contexto, leitura de cenário, de anamnese
"Segundo a medicina, um bom diagnóstico está em uma boa anamnese".
Uma boa anamnese é composta por alguns elementos indispensáveis, reúna tudo o que se precisa saber sobre o seu paciente (cliente) num único lugar, mantendo o foco em: queixa principal (QP), histórico familiar e nas patologias pregressas.
Quem é o público alvo? Por que ele compra? O que está acontecendo? Quais são os dados que temos para análise? Macroeconomia, Market share, Quantidade de clientes.
Também podemos conversar com o paciente, investigar o histórico, ter uma interpretação verbal e não verbal, fazer cruzamento de informações, entender a história da doença atual (HDA), interrogatório sistemático ou sintomatológico (IS), hábitos de vida e história psicossocial (condições socioeconômicas e culturais).
Passo 3— Zoom in, Análise Diagnóstica
Com um bom entendimento do contexto do problema, passamos a estabelecer um diagnóstico.
Na fase de diagnóstico procuramos entender o porquê isso aconteceu, quais são as correlações e causalidades do problema.
Neste caso poderia ser diagnosticado um resfriado, uma gripe, dengue, enxaqueca, ou qualquer outra doença infecciosa na qual os sintomas podem incluir a febre e a dor muscular.
Na gestão de produtos, uma ferramenta utilizada para o diagnóstico é o JOBS TO BE DONE.
Passo 4— Análise Preditiva, Previsões
Neste momento analisamos fatos atuais e históricos para fazer previsões sobre eventos futuros. O que vai acontecer se o problema não for resolvido? Qual a tendência em cima dos DADOS analisados?
Passo 5 — Hipótese, Análise Prescritiva (Hora de fazer o exame)
Quais soluções podem ser implementadas? Quais os retornos esperados para as soluções apresentadas? Ou melhor, descreva o método científico.
As hipóteses possuem características como:
- Ter enunciado, ser uma sentença declarativa;
- Possuir uma relação entre duas ou mais variáveis (parâmetros);
- Ser testável, passível de comprovação, por processos de observação e/ou experimentação.
E o que é a hipótese para o caso?
A hipótese é a conclusão da consulta.
(Se o paciente tomar as medicações e se hidratar com 3 litros de água diariamente durante 5 dias, esperamos que a febre e a dor muscular desapareçam).
Hipótese afirmativa — positiva (O resultado da pesquisa deve comprovar a afirmação);
Hipótese afirmativa — negativa (O resultado da pesquisa deve comprovar a afirmação);
Hipótese condicional (O resultado da pesquisa é condicionado aos resultados).
Na gestão de produtos, orientada a resultados, ao testar e validar uma hipótese, nós precisamos de alguns pontos. São eles:
- Uma solução descrita;
- Fator tempo;
- Resultados esperados com métricas.
Voltamos a lição ZERO: humildade, pois toda hipótese, ainda que confirmada, está associada a um tempo.
Conclusão
Muito se fala no mundo corporativo sobre hipóteses como forma intelectual para destilar opiniões e achismos.
Mas basta entender que a palavra hipótese veio para nos ajudar a criar uma estrutura organizacional mais orientada a dados e experimentações. Nos ajudando a reduzir as incertezas e reduzir riscos.
Me conta aí o que vocês acham 😁✌🏼