Vamos começar esclarecendo de forma bem resumida o que é o sentimento de dono, termo utilizado como sendo uma skill "diferenciada" na descrição de vagas. Ao fazer uma pesquisa no Google sobre o assunto, eis o primeiro resultado:
O sentimento de dono é quando uma empresa cria em seus funcionários uma mentalidade e desejo de envolvimento com o negócio muito parecida com a visão que o próprio dono teria, melhorando suas práticas diárias.
Esta mesma página traz, ainda, alguns exemplos de características do colaborador(a) para com este sentimento:
– Autorresponsabilidade: assumir a responsabilidade e não culpar outros (inclusive times ou subordinados) por falhas;
– Organização: saber priorizar e executar;
– Ser adaptável: seguir planos, mas, ao mesmo tempo ter flexibilidade e autonomia para adaptá-los;
– Ter boa comunicação: entender e explicar não apenas o que fazer, mas também por que fazer. Se não souber, descobrir;
– Saber trabalhar em equipe.
Vejo que, na verdade, este senso de dono é muito confundido com profissionalismo ou responsabilidade.
Senso de dono não é exercer sua função da melhor forma possível
Profissionais de sucesso na área de produto ou qualquer outra devem ser responsáveis por suas atitudes, assumir falhas, se comunicar bem com stakeholders, informar sobre impedimentos que comprometem a entrega em um determinado prazo, devem ser organizados, devem estar cientes de suas pendências e não engavetar problemas, devem ser pró ativos e adaptáveis. Por isso que sempre me incomodei com este sentimento de dono já que, na minha opinião, estão cobrando que eu apenas exerça as minhas funções da melhor forma possível e não é necessário ser dono para isso.
Mas aí podemos nos questionar “Ah Maurício, mas falamos pro camarada ter sentimento de dono porque ele deve estar engajado no sucesso do negócio”. Ok, mas estar engajado não é ser responsável pelo negócio. O negócio é de responsabilidade do CEO e dos executivos da alta gestão. Cada colaborador deve ter a propriedade e ser responsável pelas suas entregas e estas entregas por consequência impactam o negócio.
Se cada um desempenhar bem as suas funções, as coisas irão fluir de forma mais natural. Não é necessário se sentir dono para ser responsável pela entrega da sua sprint, concorda?
Match entre os valores do negócio e o valor de cada colaborador
Acredito que o que deve ser procurado nos candidatos e candidatas é o match entre os valores do negócio e o valor de cada colaborador(a). O porquê da empresa deve estar alinhado com o porquê do profissional.
Estou lendo agora o “Encontre Seu Porquê" que nos ilustra logo no início (não darei spoilers rsrs) que os diferenciais devem ser a garra, a força de vontade e o desejo imenso de fazer acontecer aquilo que você acredita. O seu porquê deve estar alinhado com o porquê do negócio.
Querer transformar a vida das pessoas através da tecnologia ou desenvolver as pessoas do seu time para serem líderes são exemplos fortes totalmente acoplados a sua motivação. Estes são exemplos de objetivos dos donos, mas não é preciso ser dono para fazer as coisas acontecerem. Se a estrutura que você está hoje está alinhada com o seu porquê e te dá as ferramentas para que você consiga fazer o que brilha os seus olhos, pode ter certeza que isso terá um impacto maior do que “uma equipe cheia de donos”.
Empresas e líderes querem trabalhar com pessoas que estão dispostas a assumir riscos e não com aquele perfil que diz que não poderá entregar determinada tarefa uma hora antes de vencer o prazo.
Antecipação é a chave
Já tive um professor que compartilhou uma história de que ia trabalhar em um projeto que o líder era totalmente claro com a seguinte orientação: “Se você tem algum impedimento ou se travar em algo que precise de outras pessoas me envolva que irei te ajudar e farei tudo que estiver ao meu alcance para remover todos os impedimentos, mas por favor não me avise do problema em cima do prazo”.
Não é o sentimento de dono que fará você se empenhar para garantir uma entrega ou irá te manter engajado na busca do momento wow na entrega de valor para seus usuários/clientes.
Nenhum profissional terá todas as respostas, mas tenho certeza que todos querem trabalhar com pessoas pró-ativas. São com essas pessoas que aprendemos, evoluímos e melhoramos os resultados. Com certeza, essa não é uma atitude exclusiva de dono.