Mais liderança e menos chefia - Parte 1

Novas perspectivas para consolidar autonomia em seus times de produto

Mais liderança e menos chefia - Parte 1
Photo by Suzi Kim / Unsplash

Sobre essa série

O estilo de liderança centralizador e pautado no comando e controle está cada vez mais no passado das perspectivas de trabalho. Ainda que algumas empresas busquem por estes estilos, a grande maioria - principalmente as que buscam se destacar em mercados digitais - tenta desconstruí-lo.

Nesta série de artigos, discutiremos mudanças de hábitos, comportamentos e novas estratégias que, ao se somarem, ajudaram você a liderar times de maneira mais alinhada ao “novo mundo” que se apresenta. Estes episódios trazem pra você o que há de mais atual e relevante nos estudos, práticas e planos de desenvolvimento de empresas que são reconhecidas por suas práticas de gestão de pessoas, como Itaú Unibanco, Google, Dell e Magazine Luiza.

O que leremos hoje.

No cenário corporativo atual, caracterizado por rápidas transformações tecnológicas e econômicas, a agilidade organizacional tornou-se uma vantagem competitiva crucial. Em particular, a autonomia dos times emergiu como um fator-chave para responder de maneira ágil às demandas dos clientes e do mercado. Este artigo explora como a autonomia pode ser um motor para o desenvolvimento dos times, para a potencialização da inteligência coletiva e também para a liderança eficaz no futuro, além de apresentar um modelo prático para implementar a autonomia em squads, tribos e na empresa, como consequência.

A autonomia como motor de agilidade e inovação

A autonomia, quando bem implementada, pode transformar a capacidade de uma organização de responder rapidamente às mudanças e incertezas. Para os times, a autonomia proporciona um ambiente onde podem enfrentar desafios de forma prática, absorvendo aprendizados e gerando valor. Isso não apenas aumenta o engajamento e o sentimento de reconhecimento, mas também contribui para um senso mais profundo de responsabilidade, compromisso e comprometimento.

Autonomia só existe se houver diretrizes

A essa altura você já deve saber que autonomia não significa fazer o que der na telha. E também que minimamente soa estranho ouvir que é necessário seguir um passo a passo de como agir para ter autonomia.

A verdade é que autonomia não é nem agir pelo impulso do vento, nem seguir uma fórmula única; ela deve ser adaptada ao contexto e à situação específica.

Podemos olhar para essa adaptação como alguém que tenta afinar uma corda de violão.

Colocar muitos limites no time é como tensionar muito a corda do violão;

Não colocar nenhuma limitação é como afrouxar demais a corda do violão;

Em ambos casos, aquela corda não vai soar em harmonia com o resto das cordas, e você não vai conseguir fazer o seu som ficar maroto (seu time não estará em sintonia com os demais times da empresa; ou nem mesmo entre si).

Para encontrar o ponto de afinação perfeito, é preciso buscar um equilíbrio entre autonomia e diretrizes claras. Assim, os times têm liberdade para atuar dentro de contornos definidos, promovendo inovação enquanto mantêm responsabilidade. Esse, na prática, é um dos maiores desafios de qualquer liderança.

O estudo do MIT Sloan Management Review, chamado "The New Leadership Playbook for the Digital Age" (2020), revelou que apenas 12% das lideranças globais acreditam ter o mindset necessário para enfrentar os desafios atuais, incluindo a construção de times empoderados e com autonomia.

E como fazer?

Autonomia não é um atributo solto. Quando buscamos por um fio condutor, achamos caminhos que a relacionam com outros comportamentos (uns causa; outros consequência) e que geram um ciclo onde a autonomia é constantemente reforçada.

Antes de seguir com a leitura, faça um exercício prático e liste quais comportamentos fazem você se conectar com a autonomia e empoderamento. Algumas perguntas que podem te ajudar a encontrar estes comportamentos são:

  1. “O que eu posso fazer para gerar autonomia no meu time?”;
  2. “O que eu já vi acontecer que quebrou a autonomia de um time?”;
  3. “O que me traz segurança para agir com autonomia?”

Agora veja se alguma das palavras que você listou estão presentes nessa lista:

  1. Autoconfiança
  2. Capacitação
  3. Competência
  4. Flexibilidade
  5. Motivação
  6. Contornos
  7. Aprendizagem
  8. Autorresponsabilidade
  9. Satisfação
  10. Comunicação
  11. Crescimento pessoal
  12. Iniciativa
  13. Criatividade
  14. Coragem
  15. Produtividade
  16. Resiliência
  17. Credibilidade
  18. Realização
  19. Bem-estar
  20. Protagonismo
  21. Responsabilidade social
  22. Reconhecimento

Os atributos acima se relacionam com o tema de forma não exaustiva e podemos usá-los para trabalhar várias estratégias customizadas com o fim de construir autonomia. A grande sacada é entender, dentro do seu time, quais são os ofensores da autonomia, e começar a trabalhar estas questões de forma interligada. Mas calma, você que gosta de uma solução mais objetiva, porque falaremos agora sobre os…

Pilares da Autonomia: Contorno, Confiança e Coragem

Existe sim uma maneira mais “assertiva” de construir autonomia em um time, principalmente se você nunca trabalhou isso antes. Para que a autonomia seja eficaz, é crucial apoiá-la em três pilares: contorno, confiança e coragem.

Contorno

O contorno se refere às diretrizes e limites dentro dos quais a autonomia é exercida. 

Existem dois tipos de contornos:

1. Contorno Organizacional: Inclui elementos como a estratégia de negócios, cultura organizacional e regras de compliance. Por mais que sejamos livres para propor soluções, devemos garantir que elas respeitem estes limites para serem factíveis.

2. Contorno Situacional: Relaciona-se às expectativas específicas de projetos ou atividades, como prazos, orçamento e governança. Define claramente os papéis e responsabilidades, permitindo que os times operem com mais liberdade dentro desses parâmetros.

Confiança

A confiança é fundamental para a autonomia, e deve ser construída de forma mútua entre líderes e times. As lideranças devem demonstrar confiança no desenvolvimento e na capacidade dos times, enquanto os times devem confiar na responsabilidade e no compromisso das lideranças.

Coragem