Sobre essa série
O estilo de liderança centralizador e pautado no comando e controle está cada vez mais no passado das perspectivas de trabalho. Ainda que algumas empresas busquem por estes estilos, a grande maioria - principalmente as que buscam se destacar em mercados digitais - tenta desconstruí-lo.
Nesta série de artigos, discutiremos mudanças de hábitos, comportamentos e novas estratégias que, ao se somarem, ajudaram você a liderar times de maneira mais alinhada ao “novo mundo” que se apresenta. Estes episódios trazem pra você o que há de mais atual e relevante nos estudos, práticas e planos de desenvolvimento de empresas que são reconhecidas por suas práticas de gestão de pessoas, como Itaú Unibanco, Google, Dell e Magazine Luiza.
O que leremos hoje.
No cenário corporativo atual, caracterizado por rápidas transformações tecnológicas e econômicas, a agilidade organizacional tornou-se uma vantagem competitiva crucial. Em particular, a autonomia dos times emergiu como um fator-chave para responder de maneira ágil às demandas dos clientes e do mercado. Este artigo explora como a autonomia pode ser um motor para o desenvolvimento dos times, para a potencialização da inteligência coletiva e também para a liderança eficaz no futuro, além de apresentar um modelo prático para implementar a autonomia em squads, tribos e na empresa, como consequência.
A autonomia como motor de agilidade e inovação
A autonomia, quando bem implementada, pode transformar a capacidade de uma organização de responder rapidamente às mudanças e incertezas. Para os times, a autonomia proporciona um ambiente onde podem enfrentar desafios de forma prática, absorvendo aprendizados e gerando valor. Isso não apenas aumenta o engajamento e o sentimento de reconhecimento, mas também contribui para um senso mais profundo de responsabilidade, compromisso e comprometimento.
Autonomia só existe se houver diretrizes
A essa altura você já deve saber que autonomia não significa fazer o que der na telha. E também que minimamente soa estranho ouvir que é necessário seguir um passo a passo de como agir para ter autonomia.
A verdade é que autonomia não é nem agir pelo impulso do vento, nem seguir uma fórmula única; ela deve ser adaptada ao contexto e à situação específica.
Podemos olhar para essa adaptação como alguém que tenta afinar uma corda de violão.
Colocar muitos limites no time é como tensionar muito a corda do violão;
Não colocar nenhuma limitação é como afrouxar demais a corda do violão;
Em ambos casos, aquela corda não vai soar em harmonia com o resto das cordas, e você não vai conseguir fazer o seu som ficar maroto (seu time não estará em sintonia com os demais times da empresa; ou nem mesmo entre si).
Para encontrar o ponto de afinação perfeito, é preciso buscar um equilíbrio entre autonomia e diretrizes claras. Assim, os times têm liberdade para atuar dentro de contornos definidos, promovendo inovação enquanto mantêm responsabilidade. Esse, na prática, é um dos maiores desafios de qualquer liderança.
O estudo do MIT Sloan Management Review, chamado "The New Leadership Playbook for the Digital Age" (2020), revelou que apenas 12% das lideranças globais acreditam ter o mindset necessário para enfrentar os desafios atuais, incluindo a construção de times empoderados e com autonomia.
E como fazer?
Autonomia não é um atributo solto. Quando buscamos por um fio condutor, achamos caminhos que a relacionam com outros comportamentos (uns causa; outros consequência) e que geram um ciclo onde a autonomia é constantemente reforçada.
Antes de seguir com a leitura, faça um exercício prático e liste quais comportamentos fazem você se conectar com a autonomia e empoderamento. Algumas perguntas que podem te ajudar a encontrar estes comportamentos são:
- “O que eu posso fazer para gerar autonomia no meu time?”;
- “O que eu já vi acontecer que quebrou a autonomia de um time?”;
- “O que me traz segurança para agir com autonomia?”
Agora veja se alguma das palavras que você listou estão presentes nessa lista:
- Autoconfiança
- Capacitação
- Competência
- Flexibilidade
- Motivação
- Contornos
- Aprendizagem
- Autorresponsabilidade
- Satisfação
- Comunicação
- Crescimento pessoal
- Iniciativa
- Criatividade
- Coragem
- Produtividade
- Resiliência
- Credibilidade
- Realização
- Bem-estar
- Protagonismo
- Responsabilidade social
- Reconhecimento
Os atributos acima se relacionam com o tema de forma não exaustiva e podemos usá-los para trabalhar várias estratégias customizadas com o fim de construir autonomia. A grande sacada é entender, dentro do seu time, quais são os ofensores da autonomia, e começar a trabalhar estas questões de forma interligada. Mas calma, você que gosta de uma solução mais objetiva, porque falaremos agora sobre os…
Pilares da Autonomia: Contorno, Confiança e Coragem
Existe sim uma maneira mais “assertiva” de construir autonomia em um time, principalmente se você nunca trabalhou isso antes. Para que a autonomia seja eficaz, é crucial apoiá-la em três pilares: contorno, confiança e coragem.
Contorno
O contorno se refere às diretrizes e limites dentro dos quais a autonomia é exercida.
Existem dois tipos de contornos:
1. Contorno Organizacional: Inclui elementos como a estratégia de negócios, cultura organizacional e regras de compliance. Por mais que sejamos livres para propor soluções, devemos garantir que elas respeitem estes limites para serem factíveis.
2. Contorno Situacional: Relaciona-se às expectativas específicas de projetos ou atividades, como prazos, orçamento e governança. Define claramente os papéis e responsabilidades, permitindo que os times operem com mais liberdade dentro desses parâmetros.
Confiança
A confiança é fundamental para a autonomia, e deve ser construída de forma mútua entre líderes e times. As lideranças devem demonstrar confiança no desenvolvimento e na capacidade dos times, enquanto os times devem confiar na responsabilidade e no compromisso das lideranças.