Normalmente cultura é um daqueles conceitos vagos que podem ter diferentes significados para cada indivíduo. Nesse texto quero explorar cultura como um dos pilares para construção de produtos de qualidade. Pense comigo: o valor que entregamos para o cliente é resultado das nossas interações, portanto, a cultura tem influência direta nas nossas interações?
Cultura como força ativa
Se nos debruçarmos sobre este assunto, o que vemos na maioria das vezes, são empresas que focam em apresentar seus valores, e estes (teoricamente) direcionam a sua cultura.
Procurando pela origem da palavra CULTURA chegamos ao latim: colere, que significa cultivar, cuidar com afeto, com amor. A partir desse ponto podemos interpretar cultura, não como uma substância, mas sim como uma força ativa, algo que se exerce, e não como algo a ter ou deixar de ter. Utilizando esse prisma, é possível enxergar essa questão de outro ângulo:
- Cultura é o produto das interações que cultivamos, e não algo que se altera ou influencia diretamente. A analogia é a sombra, podemos alterar a luz ou o objeto, mas nunca a sombra diretamente.
- Valor é o resultado do que cultivamos e dificilmente pode ser transmitido apenas pelo viés de uma ideia ou teoria apresentada.
Dado isso, entendemos que os valores são o resultado do que cultivamos no dia-a-dia, então porque apresentamos um conjunto de valores pré-definidos para alguém recém chegado em uma empresa? Essa ação muitas vezes vem da expectativa de que estes valores “programem” a cultura da empresa nessa pessoa, influenciando as decisões dela para algo que acreditamos ser o melhor.
“The language of cultural changes will decide what culture we want and then we’ll install that culture in people, we will program them” - Dave Snowden
Assim como o Snowden menciona em sua palestra (Is Mindset Yet Another Agile Buzzword?), tenho observado uma movimentação onde o foco da melhoria cultural se pauta em reforçar os valores formais da organização, e não nas práticas que deveriam sustentar ou viabilizá-los.
Cultura é como um arquivo read-only, que não recebe alterações diretas e não pode ser programado, mas é resultado do que você cultiva. Logo, o foco deve estar direcionado para as práticas a serem exercidas no ambiente de trabalho e não para as ideias (valores) a serem aprendidas. Não me entendam mal, não estou dizendo que as ideias não possuem valor, mas questiono o foco no desejo de fixar nas pessoas os valores da organização, que muitas vezes deixam em segundo plano as práticas que poderiam proporcionar experiências que resultam em: colaboração, autonomia, aprendizado, inovação e confiança.
Liderança como principal interessada
Não trata-se de jogar fora o que foi construído, como uma missão e valores bem definidos, mas aplicar energias para criar práticas que fomentem os resultados desejados (valores). Por exemplo, se sua organização compreende o aprendizado como um valor, você deveria se questionar quais práticas existem hoje na empresa que viabilizam o aprendizado para que aconteça de forma abrangente.
A liderança da empresa tem um impacto tremendo sobre como a cultura é percebida. Mesmo que a organização tenha seus valores muito bem definidos, se a liderança não for a principal interessada em promover as práticas culturais, teremos como resultado a chamada cultura de parede, onde a ênfase está em destacar valores que a própria organização não cultiva.
Concluindo
Portanto, para se construir uma cultura sólida, que resista ao tempo, é necessário que existam práticas culturais que contribuam com a qualidade das interações entre as pessoas, auxiliando na construção de produtos que fomentem os valores da organização. Sua empresa já possui práticas que fomentem valores culturais? Deixe um exemplo no comentário!