2020 foi um ano único. É meio chover no molhado falar isso, mas teve algo que, para quem trabalha com produtos digitais, se destacou em meio a toda imprecisão deste ano. A criação de produtos digitais tem se deslocado dos EUA para outros países.
Não é novidade esse movimento, mas neste ano ficou mais evidente e profundo. Para ser ter ideia, startups sediadas nos EUA estão abocanhando somente metade do capital de risco global. Antes, essas mesmas startups atraíam 90% do capital.
Essa nova dinâmica tem duas consequências visíveis - crescimento de empresas digitais restritas ao mercado doméstico e também de globais criadas fora dos EUA.
Um exemplo disso foi bem emblemático.
Entre a obrigatoriedade de usar máscara e acompanhar a tensa eleição para presidente, os americanos passaram pela primeira conectados a um aplicativo que não foi criado nos EUA, mas na China, país que cultiva valores totalmente diferentes.
O TikTok veio aos poucos e ficou, o que acabou por fazer tremer o mercado de produtos relacionados a vídeo digital. O TikTok não realiza o mesmo que o YouTube mas fornece algo adjacente e que é altamente competitivo no mercado de sites de vídeos.
Era somente questão de tempo para a China ter um produto digital de relevância global. Assim como o Brasil, a China é uma fábrica de bons desenvolvedores e de produtos digitais, mesmo que ainda restritos ao local.
O que eu quero dizer com tudo isso: a partir de 2020 não poderemos mais assumir que as empresas americanas ditam total e completamente a agenda e concebem os produtos digitais mais importantes. As coisas estão a mudar com certa velocidade.
E isso tem a ver não somente com capital investido ou número de empresas digitais abertas. A própria dinâmica de trabalho está mudando. Com a validação do trabalho remoto, não há mais necessidade de ter caros escritórios em centros de tecnologia para atrair talentos. Brincando com uma frase do escritor futurista William Gibson - os talentos já existem, eles somente não estavam distribuídos pelo mundo.
Com a geração de produtos digitais se deslocando dos EUA para o resto do mundo, surge a natural demanda pela criação de referências próprias e locais.
E acredito que o ProductOversee vem sintonizado com esse fluxo. É uma forma de se pensar sem se basear na mera repetição dos parâmetros gringos, mas analisando com o timing e as características do mercado brasileiro.
Tenho orgulho de estar fazendo parte desse projeto a convite do Diego Eis, o qual o conheço desde os tempos da pioneira Visie.
Neste espaço, estarei escrevendo sobre o que sempre escrevi - cultura digital e análise do mercado de produtos digitais.
Seja bem vindo! E até breve!