Tornar alguma atividade em um hábito, leva tempo. Alguns hábitos são desenvolvidos desde a infância, como a rotina de escovar os dentes antes de dormir, enquanto outros são adotados por necessidade, como frequentar uma academia.
Existem hábitos que adquirimos sem perceber e que nem sempre são benéficos para nós, como por exemplo, verificar mais de uma vez as redes sociais antes de dormir.
Em seu livro Hooked, Nir Eyal diz: “nós fomos fisgados pelos nossos smartphones”. E, de fato, fomos. Nós, brasileiros, passamos em média cerca de 5 horas por dia no celular. Estamos sempre acessando algum aplicativo, seja youtube, linkedin, instagram, tiktok, gmail ou mesmo que apenas passando o dedo e deixando passar uma infinidade de conteúdo dessas redes sociais.
Os psicólogos chamam de “comportamentos automáticos desencadeados por estímulos situacionais” esse comportamento pouco consciente ou totalmente inconsciente de reagir a um estímulo. Os estímulos situacionais podem ser diversos: um vídeo que dá play sozinho, outro conteúdo logo abaixo deste vídeo que começa a rodar, as curtidas, as notificações… E assim por diante.
Quanto mais tempo passamos nessas redes, mais elas ganham. É ruim? Em certa medida, sim, afinal deixamos de estar presentes em algumas situações, perdemos a capacidade de observar a vida fora das telas. E os aplicativos até tentam ajudar, criando aqueles alertas de “você chegou ao limite de minutos que você estipulou diariamente, que tal fazer outra coisa?”. A apple também desenvolveu um relatório no qual você tem acesso a quantas horas ficou no telefone e com que tipo de tarefa gastou mais tempo ou menos tempo.
Mas, falando de negócios e design: Como, com tantas informações e tantas redes sociais, atrair a atenção de alguém para o nosso serviço, informação ou aplicativo?
Com a força do hábito.
Porque nem tudo é ruim. Exemplo disso é o Duolingo que me manda um lembrete, todos os dias, para eu manter a minha ofensiva de 209 dias estudando espanhol. E eu continuo com o hábito de entrar no aplicativo e fazer, pelo menos, uma tarefa.
E para criar o hábito de alguém utilizar o seu produto, você pode utilizar gatilhos internos, vieses e, claro, ter um produto que resolva um problema real. Em Hooked, Eyal apresenta um modelo de quatro etapas para a criação de produtos e serviços que formam hábitos.
O apelidado Hook Model funciona assim:
- Gatilho: criação de um estímulo que dispara o hábito. Pode ser interno, como um sentimento, ou externo, como uma notificação ou anúncio.
- Ação: acontece quando o usuário interage com o produto. Vale dizer que: quanto mais fácil for a ação, melhor, e ofereça uma recompensa imediata.
- Recompensa: A recompensa é o que motiva o nosso usuário a repetir o hábito. Ela pode ser tangível, como um novo nível ou conquista, ou intangível, como um sentimento de realização ou satisfação.
Por exemplo: o jogo League of Legends criou um sistema de “honra” que dava aos jogadores a possibilidade de dar e receber pontos. Isso foi o gatilho que gerou a ação de jogadores serem mais positivos durante a partida para ganhar a recompensa no final.
- Investimento: Acontece quando o usuário investe tempo, recursos ou esforço no produto. Aqui ele pode criar um senso de propriedade que aumenta o seu engajamento e comprometimento.
Outro exemplo: uma loja de móveis sueca chamada IKEA vende móveis residenciais prontos para montar. Sim, você compra e você mesmo monta. Ao investir esforço físico e mental na montagem do produto, você começa a valorizar mais esse objeto. Esse fenômeno é chamado de “efeito IKEA”.
Tudo é questão de equilíbrio. O próprio Eyal diz que teve receio que, ao compartilhar o conhecimento da criação desse modelo, fossem criados produtos que levassem a hábitos ruins.
A criação de um hábito é uma ferramenta poderosa. Para criar produtos ou serviços que formem hábitos, o modelo apresentado por Eyal é um excelente caminho. No entanto, é importante lembrar que esses princípios só funcionam se o produto resolver um problema real do usuário.
Qual a dor que o Duolingo resolve? As pessoas querem aprender um idioma e não tem tempo, não tem dinheiro, não quer gastar…
No duolingo, elas só precisam de 3 minutos por dia.
Um produto que não resolve um problema, por mais que use os 4 princípios do modelo, não será capaz de criar um hábito duradouro. O usuário, após ter recebido a recompensa inicial, perderá a motivação de continuar usando o produto ou serviço.
E bom, para que o produto resolva um problema real é preciso de pesquisa. E muita, mas muita, empresa não faz. Mas isso é papo para outro artigo.