Já experimentou chá de hortelã? Pois é, eu experimentei... prefiro leite com achocolatado. E sabe o que isso tem a ver com gestão financeira? Absolutamente nada, mas é assim que a gente vai começando a encarar certas realidades: com uma dose de sinceridade e bom humor.
Hoje, vou falar sobre o lado emocional do dinheiro, os desafios de adoção de novas soluções pelos empreendedores solos. Spoiler: pode não ser o que você está esperando!
Casa de ferreiro, espeto de pau: a realidade de ser empreendedora solo
Espero que vocês tenham sentido falta da continuidade desse Build in Public, mas o tempo está corrido! Recentemente, minha empresa de velas, Suisa Velas e Aromas (inclusive, dá uma olhadinha lá no Instagram @suisa.aromas), recebeu várias encomendas, e precisei focar na produção, afinal, o cliente vem sempre em primeiro lugar.
Confesso que tenho um certo medo de perder prazos e acabar parando no Reclame Aqui. Recebo pedidos de lembrancinhas para momentos únicos, como maternidade, batizados e casamentos – eventos que não têm como ser adiados. Então, um atraso pode marcar negativamente a memória de alguém, e isso é algo que eu definitivamente quero evitar.
Agora, o interessante é que minha rotina na Suisa tem se tornado uma espécie de laboratório. E, como muitos empreendedores solos por aí, quando estou focada na produção, todo o resto fica em segundo plano. O financeiro? Terceiro. Planejamento financeiro? Não sei nem onde foi parar!
Recentemente, passei por alguns sustos quando percebi que meu estoque de cera e aromas tinha acabado. Comprei tudo às pressas, pagando fretes caríssimos e usando o cartão de crédito para resolver o que não estava planejado. Foi aí que um pequeno alerta começou a piscar na minha mente: “Cuidado com a bola de neve!”
Entendam, eu não tenho capital de giro para essa empresa. A Suisa começou como um hobbie que acabou se tornando lucrativo, mas estruturar um negócio vai muito além de simplesmente abrir um CNPJ. E aqui vocês podem se perguntar: "Como é que ela quer desenvolver uma solução para gestão financeira se nem ela mesma tem esse controle?".
Bem, meus caros, vocês acabaram de presenciar o clássico exemplo da síndrome da Casa de Ferreiro, Espeto de Pau.
Primeiramente, vamos resolver um mistério: por que o espeto de pau? Afinal, se a casa é do ferreiro, não deveria ter algo relacionado a metal? Pois é, o ChatGPT me explicou que o ferreiro, ao priorizar os clientes, acaba deixando suas próprias necessidades de lado. E quando precisa de um espeto, em vez de fazer um de metal, ele improvisa com algo inferior ou mais prático. Parece familiar, né?
Esse ditado popular resume bem a vida de muitos empreendedores, especialmente os solos. Nós priorizamos a produção – afinal, é o que mais amamos fazer, o motivo pelo qual começamos a empreender. E todo o resto? Bom, improvisamos e seguimos em frente.
Explorando o contexto amplo do produto
No último artigo, a parte 4, eu trouxe alguns números e desabafei sobre as famosas planilhas de projeção financeira. Agora, neste artigo, vou trazer alguns fatos.
Já iniciei novamente as entrevistas com o perfil de quem acredito serem os adotantes iniciais desse projeto. A meta era entrevistar de 20 a 30 pessoas, ou de 5 a 8 por semana. Bem, entrevistei 7 pessoas nas últimas semanas. Não, eu não parei – estou apenas indo devagar, afinal, tenho alguns pratos para equilibrar. Mas, desta vez, estou muito mais empolgada. Fato! E as respostas estão me trazendo informações realmente interessantes.
Segundo o Ash Maurya, o principal objetivo dessas entrevistas é entender o aspecto mais arriscado do seu negócio. E geralmente, isso não tem nada a ver com a parte técnica da solução. Como ele não cansa de repetir em seu livro, os recursos (features) vivem no contexto do produto, enquanto os resultados e as tarefas estão num contexto bem mais amplo.
Agora, guarde essa informação:
"O e-mail e as planilhas eletrônicas mataram mais startups do que outras startups."
Abra a cabeça e coloque isso lá dentro: os seus potenciais clientes – ou até os atuais – não estão nem aí para a sua solução. Eles só querem resolver seus problemas, e como a água, vão buscar o caminho de menor resistência.
Todo produto vive em dois contextos: o contexto da solução e o contexto mais amplo. O contexto da solução é onde estão os recursos e os benefícios do seu produto. O contexto mais amplo é onde estão os resultados que o seu cliente deseja alcançar.
Agora vem a parte boa: é no contexto mais amplo que você encontra espaços para inovar. O truque está em encontrar o ponto certo entre o benefício funcional da sua solução e a capacidade de gerar clientes mais satisfeitos.
Vamos trazer um exemplo prático:
Imagine que uma pessoa precisa pendurar um quadro na parede. Ela vai fazer um buraco, afixar um parafuso e pendurar o quadro. Mas, no fundo, o que ela realmente quer? Um quadro na parede, claro. O buraco e o parafuso são só obstáculos indesejados para atingir o resultado.
Aí vem a 3M com suas fitas dupla face – essa solução que não precisa de furo na parede… filha de uma… INOVAÇÃO!
Agora, um exemplo mais próximo de nós: por que as pessoas querem empreender?
Alerta! Vamos abrir um parêntese para falar de política por alguns momentos – mas, por favor, sem levar para o lado pessoal!
A Realidade do Empreendedorismo no Brasil
Após a confirmação do segundo turno, Guilherme Boulos, candidato à prefeitura de São Paulo, anunciou que iria incorporar três projetos da sua até então adversária e companheira de câmara em seu programa de governo.
O primeiro, e talvez o mais simbólico, é o "Jovem Empreendedor", uma linha de crédito voltada para quem quer começar seu próprio negócio. Em resumo, a candidatura do Boulos entendeu que, para dialogar com a realidade atual, vai precisar lidar com uma palavra que não faz parte do vocabulário típico da esquerda: empreendedor.
Aqui começa o dilema da esquerda brasileira. Em tese, ela sempre defendeu o povo, mas, quando olham um pouco mais de perto para quem realmente é esse povo, parece que surgem algumas contradições. A classe C representa um pouco mais da metade da sociedade brasileira, nenhum outro grupo demográfico é mais "povo brasileiro" do que a classe C. No entanto, o sonho da classe C, especialmente nos dias de hoje, parece não se alinhar tanto com os valores clássicos da esquerda.
Talvez o Boulos, em sua campanha ideal, preferisse estar falando sobre ocupação de prédios para o povo sem moradia ou defendendo causas sociais mais tradicionais. Mas, a realidade o está forçando a abordar um tema que, até pouco tempo atrás, poderia soar estranho para ele: o empreendedorismo.
Foi nesse ponto que algo ficou claro para mim, ao acompanhar análises como as do Pedro Doria, do Meio: por trás da palavra empreendedor está um conceito de Estado que vai diretamente na contramão do que a esquerda brasileira tradicionalmente defende. A ideia de se tornar empresário, de "subir na vida", é muitas vezes vista como uma ilusão vendida pelo capitalismo – uma promessa que, para eles, o sistema nunca vai realmente entregar.
Mas a classe C, a mais próxima do que chamamos de "povo", não vê as coisas assim. Eles acreditam que o capitalismo, com todos os seus defeitos, ainda funciona de alguma maneira, e que o emprego tradicional de 9h às 17h, com carteira assinada, não vai fazer ninguém crescer de verdade.
Eles não querem viver com uma aposentadoria de R$ 2 mil pelo INSS. Querem mais. Querem sair da periferia, comprar casa no bairro nobre, ter uma casa com piscina na serra ou na praia, carro importado. Querem trabalhar duro, construir algo e ficar ricos. E, sinceramente, quem não quer?
A esquerda, por outro lado, enxerga essa ascensão como uma fantasia que só é possível com um grande crescimento econômico, via aumento do PIB, e para isso, acreditam que o Estado precisa injetar dinheiro em grandes empresas privadas, tornando-as competitivas no cenário internacional.
Em resumo, a estratégia é facilitar para os grandes empresários de um lado, e não tocar na legislação trabalhista ou previdência de outro – mesmo que saibamos que a previdência enfrenta sérios problemas.
O problema é que, ter um funcionário CLT custa muito caro para os pequenos empresários, e isso inviabiliza que eles possam contratar. Por outro lado, a esquerda desconfia de como as empresas funcionam, achando que deve criar mais regras e mais burocracia, e, portanto, uma máquina estatal para fiscalizar cada barbeiro de esquina.
Além disso, o pequeno empresário ainda tem que pagar uma fatia generosa do que produz ao Estado. Afinal, se você quer ter uma empresa, vai ter que pagar imposto alto, porque o Estado precisa desse dinheiro para aplicar nas empresas que já são grandes (que, aliás, já possuem seus benefícios tributários).
O objetivo seria fazer a economia crescer, porque empresa grande consegue pagar CLT. E, se tudo der muito certo, talvez dê até para pagar a conta da previdência no final.
Resumindo, a classe C quer um tipo de Estado que facilite a vida dos pequenos empreendedores, enquanto a esquerda tradicional acha que a classe C precisa de outro tipo de apoio, que depende de um Estado forte para controlar e redistribuir a riqueza.
É nesse ponto que surgem figuras como Pablo Nassau, entre outros que...
E aí, você entendeu onde estou querendo chegar? Não?Empreender é como fazer o furo na parede – o que a classe C realmente quer é segurança financeira e ascensão social.
A maneira de alcançar isso, segundo eles acreditam, é empreendendo, buscando autonomia e construindo uma vida melhor com as próprias mãos. O furo na parede? Bom, o importante mesmo é o quadro bem pendurado e a vida estabilizada.
A classe C está disposta a eleger o prefeito de uma das maiores metrópoles do mundo, ou até o presidente do país, para conseguir o resultado esperado. Claro, poderiam buscar soluções menos complexas, como um app de gestão financeira, ou um curso no Sebrae, mas talvez, só talvez, levasse mais tempo.