Novas Carreiras: explorando as possibilidade de carreira para além do Product Manager

A carreira em gestão de produtos nem é tão nova assim, mas a consolidação de área tem acontecido nos últimos 10 anos e como uma área em construção, vemos novas posições ou arquétipos surgindo.

Novas Carreiras: explorando as possibilidade de carreira para além do Product Manager
Photo by Victoria / Unsplash

Vou explorar algumas dessas novas posições, que podem ser em gestão de produtos ou áreas paralelas para ajudar quem está pensando em novos desafios sem mudar drasticamente de carreira.

1) Product Ops

O “Ops” no nome, vem de Operações, sendo responsável por organizar e gerenciar as operações relacionadas a produtos, assim como DevOps para desenvolvimento, Design Ops para design ou Sales Ops para vendas. O principal objetivo é aumentar a performance dos times, integrando as áreas de produto, engenharia e customer success para que todos caminhem na mesma direção.

Com o amadurecimento da função de produtos, aumenta também as exigências a respeito do seu papel, tanto por parte da empresa, como do usuário, fazendo-se necessário padronizar processos de produtos, centralizar dados e organizar ferramentas. E é assim que o product ops pode ajudar o product manager.

Em algumas empresas, o papel de product ops é desempenhado pelo head de produtos ou por pessoas mais seniores do time, mas em empresas com maior complexidade, tamanho e número de produtos, faz-se necessário uma área inteira cuidando da operação de produtos. Se quiser exemplo de empresas que construíram as suas áreas de product ops eu traria exemplos como XP, Nubank, Unico, Olx, RD Station e Neon, mas basta uma busca rápida no linkedin que é possível encontrar diversos outras empresas que já estão com as suas áreas de product ops bem estruturadas.

A função é uma possibilidade para quem quer migrar para área de produtos, e que ainda não conseguiu uma posição como product manager, iniciar e depois transicionar para PM ou ainda para quem já está consolidado na área, mas precisa de novos desafios ou horizontes e nesse caso, essas pessoas podem exercer um papel de gestão da área de product ops. Também é uma possibilidade para quem já exerce papel em agilidade, visto que algumas empresas que estão testando incorporar agilidade dentro da área de product ops.

Há ainda quem defende que a própria área de product management será engolida por product ops, mas vou deixar essa polêmica para outras pessoas falarem.

Aproveitando o texto, vou listar uma série de vídeos de pessoas que já trabalham com product ops, contando sua trajetória, o dia a dia e os desafios de um “Pops”, bem como a estrutura das suas empresas e em que momento e quais as motivações dessas empresas em criar uma área de operações de produtos:

2) Program Manager

Vou começar tentando explicar o que é um programa, o que não é uma tarefa fácil, porém o que parece sintetizar melhor é que um programa é um grupo de projetos ou iniciativas interconectadas que fazem parte de um ecossistema de um mesmo escopo, sempre visando o atingir as estratégias do negócio.

O program manager precisa ter uma boa cabeça de produtos, de design, de tecnologia de processos e de projetos porque cria o elo entre esses papéis. É um papel bem generalista e com capacidades de facilitação e comunicação, colaboração, influência, com uma visão sistêmica e estratégica muito boa. Assim como product manager, essa também não é uma função de gestão de pessoas, mas sim a gestão daquela matéria, que nesse caso é o programa.

Existe um vídeo muito legal do Liam Bolling que explica as diferenças entre product, program e project manager. Um dos pontos mais interessantes do vídeo é sobre as perguntas que um PM (Product ou Program Manager) faz, enquanto o product manager está perguntando qual problema vamos resolver e por que, o program manager está perguntando se está tudo em ordem para o delivery. No vídeo também há uma analogia com o funcionamento de uma cozinha e como cada um dos PMs trabalham nessa cozinha. O vídeo é inglês - https://www.youtube.com/watch?v=iuxdmHp8NN4, mas existem bons vídeos em português sobre a carreira como o da Thaisa Fernandes para o Campus Party Brasil - https://www.youtube.com/watch?v=M-nCuPQ9-H8.

E quando é que vale a pena ter um program manager na empresa? Quando o contexto se tornou complexo, com muitos produtos e tribos, com unidades de negócio diferentes e falta esse elo que auxilia na comunicação e nos processos para que as expectativas sejam atingidas.

Um program manager pode ajudar as pessoas de produto a melhorar a visibilidade do que está acontecendo com o produto, a definir expectativas realistas trazendo o contexto geral do programa, a antecipar riscos ou recursos trabalhados por outros times que tem similaridades.

E se você, como pessoa de produto, sente que pode ampliar seu escopo, trabalhando com uma visão mais cross e sistêmica, pode ser uma possibilidade de migração de carreira. Um agilista, project manager, design ou desenvolvedor pode exercer o cargo, desde que possua as habilidades necessárias.

3) Product Strategist

Product Strategist, Product Strategy ou Estrategista de produtos é uma função que começa a aparecer ainda bem tímida no Brasil e em empresas maiores ou iniciativas de alto impacto. Suas funções sobrepõe algumas atividades do PM, como identificar oportunidades do mercado, comunicar a estratégia de produtos, posicionamento, novos negócios e novas parcerias. A principal diferença é que enquanto os PMs estão construindo o produto de hoje e trabalhando com um roadmap de no máximo 1 ano, o estrategista de produtos está olhando o futuro e as próximas tendências de mercado.

Mas não para por aqui, o product strategist, também auxilia o product manager na construção do roadmap de forma que este esteja inteiramente ligado à estratégia de produto e consequentemente a estratégia do negócio.

Há quem diga que o product strategist precisa ter conhecimento, skills e habilidades de um PM, porém, um PM não precisa ter as habilidades de um product strategist.

Ainda é uma posição de “zona cinzenta” no cenário brasileiro, talvez o que antes dividíamos entre o que um PO e que PM faziam, agora passamos a dividir o que um PM faz e o que um PS faz. Ou também pode ser semelhante ao que algumas empresas contratam como “Principal PM” ou “Staff PM”. Apesar de parecer polêmica essa afirmação, é fato, que a posição está surgindo para cobrir algum gap. Além do mais, a função é majoritariamente de pessoas seniores e também não é uma posição de gestão de pessoas.

Conclusão

Essas posições estão aparecendo timidamente em empresas maiores, com grande portfólio de produtos, em que passam a ter exigências e assertividades maiores em entregas e resultados de produtos e não há como negar que a maioridade das vagas ainda disponíveis são para Product Managers.

A importância dessas novas posições nas empresas depende muito do momento estratégico em que ela está vivendo. Ou seja, cenários complexos, crescimentos acelerados ou iniciativas de grande impacto surgem gaps e portanto a necessidade de novas posições para reduzi-los. Mais uma vez, não existe fórmula mágica, existe o que melhor se adequa a cultura, necessidades e momento da empresa.

Fazendo uma análise das vagas disponíveis no Brasil e no mundo em relação a essas posições, por meio do Linkedin, Glassdoor, Indeed, Catho e Google trends, observei os seguintes aspectos:

  • Dentre todas as vagas divulgadas e as palavras pesquisadas no google trends, a posição de product manager é disparadamente a que possui mais vagas em aberto, além de ser o termo mais pesquisado, enquanto product strategy ou product strategist é a menos disponível e menos pesquisada.  
  • Embora a posição de program manager esteja com a segunda posição em número de vagas abertas, existem dois cenários que precisam ser levados em consideração. O primeiro é que nos Estados Unidos, diferente do restante do mundo, a carreira de program manager está mais consolidada, inclusive com empresas em que não existem product managers e sim program managers e isso faz com que o índice de vagas e procura pelo termo se elevem no cenário global. O segundo é uma característica específica do Brasil em que ao pesquisar uma vaga de program manager nos sites de recrutamento aparecem muitos resultados de project manager. O ideal seria fazer uma análise mais aprofundada segregando os dois perfis.
  • Embora as posições de product ops apareçam em terceiro no número de vagas disponíveis, existe o aspecto de que os dados de program manager precisam ser refinados, conforme explicado no item anterior.
  • Quanto ao salário, mesmo informando o que a minha pesquisa trouxe de conclusão, vale lembrar que existem fatores que os fazem variar amplamente, como região geográfica, nível de experiência, setor e indústria. De forma geral, conclui-se que os maiores salários são os de product strategy, por conta da senioridade, especificidade e do impacto desse profissional. Em segundo, os program managers, os quais recebem anualmente em torno de 30% a mais em relação aos product managers, possivelmente por conta da horizontalidade, impacto e autonomia do cargo, ou seja, da habilidade de amarrar e influenciar diversas iniciativas ampliando os resultados do programa. Já para product ops e product manager, os salários médios são bem parecidos e o que diferencia é a importância que cada empresa dá para os cargos. Ainda sobre salários, olhando por um aspecto mais amplo, quanto mais operacional é o cargo, menor é o salário, quanto mais estratégico ao negócio e maior efeito nos resultados, maior também será a média salarial do cargo.


Chegar nessas posições pode ser considerado uma transição de carreira ou uma evolução de carreira em product management, dependendo do prisma em que a análise é feita. Para quem já possui uma ampla experiência como product manager pode ser mais fácil transicionar para essas cadeiras, mas há espaço para todo mundo desde que tenham as habilidades e qualidades necessárias para exercer esses novos cargos.