Se você já atua ou está na fase de transição para área de produto, deve ter aberto esse post bastante intrigado sobre o seu conteúdo, mas prometo que vou explicar melhor ao longo dele.
Para contextualizar, (prometo não me estender muito aqui), durante o meu MBA em Gestão Estratégica de Pessoas, eu conheci o Scrum e fiquei simplesmente encantada com o framework. Basicamente, quando algo desperta minha atenção, eu preciso me aprofundar mais sobre o assunto, ou seja, sou curiosa, então resolvi ler o livro “A arte de fazer o dobro do Trabalho na metade do tempo” de Jeff Sutherland, co-fundador do Scrum.
Mal sabia eu que, trabalharia com o framework, na minha experiência profissional (na época), como Strategy Analyst, numa Startup de Tecnologia para publicidade, um papel similar ao de uma Product Owner.
Bem, foi durante essa minha atuação que o desejo de conhecer mais a área de produto surgiu. Como mencionei anteriormente, sou curiosa, mas além disso, eu amo fazer perguntas, entender o porquê dos processos e ficar martelando se não existiria uma maneira melhor de realizá-los (mais que processos, eu faço isso com tudo). Então, decidi migrar efetivamente para área de produto!
Iniciei a jornada para alcançar esse objetivo e encontrei vários desafios no caminho. Sabia que não seria fácil, mas não imaginava que seria tão complicado.
O meu caminho das pedras
Finalizado o contexto, vamos para o mérito do artigo, que foi baseado justamente nessa experiência, desde a fase de pesquisa até a efetiva transição para produto. O objetivo não é desanimar ninguém, pelo contrário, é mostrar o caminho das pedras, a partir disso, você decide, se deseja seguir ou se prefere recuar.
Diante disso, o que vou relatar são conclusões próprias, fundamentadas no que vivenciei, são informações que gostaria de ter recebido na jornada, logo, alguém pode discordar, inclusive, adorarei ouvir outras opiniões a respeito.
Mas vamos ao que interessa:
- Não venha para produto se você não gostar de estudar. Parece clichê, mas não é. Não existe uma graduação para área ou um by the book. Diante disso, o seu esforço precisará ser muito maior, pois serão várias fontes de estudos. O lado positivo é que, temos várias comunidades e pessoas que se apoiam e democratizam conteúdo como: Mulheres de Produto, Product Guru’s, Product Oversee, Produteira de Recife (eu mesma), Bernard de Luna, Diego Eis, Cíntia Ribeiro, Érica Brione, Thays Bueno, Product Bruna, Cami Product, Raphael Dyxklay e muitos outros.
- Não venha para produto se não for resiliente, e não estou falando isso para assustar ninguém, na verdade, é ao contrário, é para evitar frustrações. Serão muitos Nãos durante a jornada de transição de carreira, e isso não muda muito, quando passa a atuar na área (o famoso top down). Mas cada Não, é um aprendizado, a cada Não, você sai mais forte e mais preparada para o próximo, tem sido assim comigo.
- Não venha para produto se não souber lidar com informações ambíguas. Como falei anteriormente, são muitas fontes de conhecimento, isso já é complicado para quem está iniciando, mas o ponto mais crítico é a divergência de opiniões na comunidade. Abaixo alguns exemplos que vivenciei:
“Você precisa fazer o curso X e tirar a certificação Y.” Em seguida ouvia: “Mas isso não garante nada.”
“Leia Inspired é a bíblia de produto.” No mesmo instante, lia e ouvia várias críticas ao livro.
“Você precisa saber programar, background técnico é fundamental.”
“O background técnico não é essencial, mas estude isso, e recebia uma lista cheia de termos técnicos.”
“Trabalhar com produto é incrível.”
“Não é o que parece, tem muita glamourização na área.”
No começo, eu ficava super confusa, e olhe que essas só são algumas das divergências, existem muitas outras, mas hoje, lido com isso naturalmente. Basicamente, eu resolvi “escutar” todos os lados, sem viés, e a partir disso, eu construí minha própria opinião sobre esses pontos, além da experiência que tenho hoje como Product Owner que me deu uma visão holística.
- Não venha para produto se não estiver disposto a aprender inglês (caso já não saiba). Perceba que falei se não estiver disposto a aprender e não se não tiver conhecimento. Isso porque, existem milhares de termos e expressões em inglês que são utilizados na nossa rotina, a começar com os nomes dos cargos Product Manager / Product Owner. No meu caso, atualmente, tenho aula de inglês todos os dias, mas ainda sou beginner, então às vezes, em algumas reuniões, surgem palavras que não conheço, quando tenho espaço, pergunto de imediato, caso não, levo para minha teacher. O importante é estar disposto a aprender, pois é uma hard skill fundamental!!
- Não venha para produto se não gostar de resolver problemas complexos. Inclusive, existe uma frase bem clichê da área, que retrata bem isso: “Se apaixone pelo problema, não pela solução.” Então, se você é apaixonado por soluções, mas corre de problemas, não venha para produto, porque seu job description é justamente ao contrário.
- Não venha para produto, se não estiver disposto a dedicar tempo e recursos financeiros (realidade). Fazendo um link com os pontos anteriores, trabalhar com produto é estudar constantemente, logo, é necessário que você disponibilize tempo para isso. O segundo e polêmico item, é uma questão importantíssima, mas nem sempre abordada na comunidade produteira, bem, os cursos de produtos NÃO SÃO BARATOS. Para quem está iniciando e não tem os altos salários de produto, é ainda mais difícil, chegando a ser inacessível. Infelizmente, muitas vagas têm como requisito, a conclusão desses cursos caríssimos. Em contrapartida, nos últimos meses, tenho visto iniciativas gratuitas e novos cursos com preços “melhores”. Então, se a empresa que você deseja, exige como requisito, um curso que não cabe no seu bolso, avalie se ela vale a pena de verdade.
Bem, acredito que abordei os pontos críticos que enfrentei durante a minha fase de transição de carreira, e agora, acredito que você leitor, tendo uma visão holística e expectativas alinhadas, tomará a melhor decisão.
Espero que esse conteúdo ajude de alguma forma, quem sabe a tornar a sua jornada mais leve. E espero ainda que, você contribua muito para a nossa comunidade, tornando-a mais acessível e diversa. Mas, se ao refletir sobre os pontos acima, tiver concluído que não faz sentido para você, não venha para produto. Está tudo bem, seja incrível onde estiver, mas esteja pelos motivos certos.