Tudo, exatamente tudo, o que você fez na sua vida até hoje pode te ajudar a ser um bom profissional de produto. Esta foi a primeira coisa que eu constatei quando iniciei a minha jornada nessa nova carreira, nova porque ela começou em abril deste ano. Claro que fui descobrindo aos poucos, ainda no período da transição, mas tudo ficou muito mais claro a cada dia que eu dava o start nas minhas tarefas diárias.
A primeira vez que tive contato com a palavra Product Owner eu estava trabalhando no marketing de uma empresa SaaS em Florianópolis. Estava em uma reunião no qual faríamos um processo de namig de um novo produto, e eu me apaixonei. Infelizmente, a pessoa que mais deveria me incentivar na época me falou que aquilo não era pra mim.
Segui em empresas de tecnologia, um mundo novo para quem tinha passado 20 anos atuando como co-founder de uma empresa de assessoria de imprensa que atuava diretamente com produtos B2C, ou seja, eu era contratada para fazer o cliente aparecer de forma orgânica na mídia para o público consumir seus produtos. Isso foi no Nordeste, outro mundo. Então, a famosa “Ilha da Magia” me abriu a mente.
Eu segui, passei por algumas empresas de tecnologia, sempre no marketing, mas com um pé em assessoria de imprensa e utilizando uma das coisas que eu mais amo fazer: criar relacionamentos, pesquisar, questionar, ouvir e montar na mente uma “viagem de evolução”, tipo um plano B de vida.
Comunicação e produto: como isso dá match?
Olhando de fora, me fiz várias perguntas: como um Product Owner ou um Product Manager podem atuar? Será que é preciso entender tanto assim de programação? O quanto eles precisam saber sobre tecnologia? Será que faz sentido o que me falaram sobre eu não ter potencial para essa função?
É notório que essa dúvida é comum entre as pessoas que têm adquirido mais conhecimentos sobre a profissão de produto, mas quando decidi que queria mesmo abraçar esse desafio eu segui alguns passos.
- Participei de uma live para entender melhor a profissão;
- Fiz perguntas como “ser jornalista e relações públicas” podem me ajudar a ser uma PM?
- Quais as habilidades de comunicação se encaixam com a profissão de produteiro?
- Saber escrever e documentar eram pontos positivos pra carreira?
- Preciso saber codar?
Sim, eu caí no conto do vigário de que eu precisaria saber codar para atuar na área. A resposta foi clara: não, não preciso. Conversei com muitas pessoas da área e principalmente com Tech Product Managers, eles, sim, são mais técnicos e precisam entender sobre códigos.
Entendi que é ideal conhecer pelo menos as estruturas da programação, como por exemplo, saber o que faz o frontend ou um backend, entender um pouco de lógica, mas nem de longe preciso colocar a mão na massa no código. Isso foi um alívio e eliminava o pior ponto da minha lista de dúvidas.
Mas quais habilidades de comunicação eu poderia aproveitar?
No meu caso eu já intermediava negociações e gerenciava expectativas de stakeholders, trabalhava usando a metodologia kanban (e descobri isso durante conversas com profissionais da área), estava voltada a métricas e resultados, pensava no produto “release” com foco no cliente, priorizava as atividades, gerenciava equipe multidisciplinares, conduzia reuniões (ou em produtos, cerimônias), tinha que tomar decisões, analisar riscos, principalmente em um gerenciamento de crise, ser crítica e tudo isso trabalhando em squad.
Se você já é uma pessoa de produto você certamente se identificou com alguns termos do que eu falei e se você é da área de comunicação, espero ter iluminado sua mente.
Habilidades de produto são apenas habilidades de comunicação?
De certeza absoluta: não. Muitas habilidades que citei acima e que são de comunicação estão muito próximas das atividades que um produteiro realiza na sua rotina diária. Mas, uma das melhores coisas que eu fiz enquanto fazia a transição de carreira foi usar a minha habilidade de criar networking para interagir com quem já estava trabalhando. Foi por meio dela que descobri que pessoas que tinham formações em engenharia, arquitetura, direito, psicologia, enfermagem e exerciam funções e atividades que também se alinhavam com a minha nova profissão.
Pontos que me ajudaram a ter sucesso na jornada
Eu poderia enumerar vários, mas vários deles dizem muito pela minha personalidade, como, por exemplo: disciplina, organização, pensar sempre em vários cenários, determinação e resiliência. Para quem acredita em horóscopo, eu sou leonina e, como tal, eu sempre vou apostar no meu potencial.
Fiz uma lista [veja abaixo no próximo bloco] do que acredito que pode ajudar qualquer pessoa que esteja nesta jornada de fazer a transição de carreira para produto. Aliás, algumas destas dicas tenho compartilhado com pessoas que buscam minha ajuda, seja pelo Linkedin ou Instagram. Faço isso de forma gratuita, como se fosse uma corrente do bem: me ajudaram, eu te ajudo. Quando estiver obtendo seu sucesso, ajude alguém. Afinal, acreditar que podemos fazer o bem, sem olhar a quem, sempre fez parte da minha história.
Quais as dicas que eu repasso para pessoas em busca de transição?
- Leia sobre a profissão de produto. Eu recomendo artigos, pois eles costumam trazer assuntos mais resumidos; particularmente recomendo o Product Oversee que, aliás, tem uma assinatura muito barata e que entrega conteúdos ricos toda semana no seu e-mail;
- Escute podcasts sobre o assunto. Eu recomendo o Product Guru’s [almoço com eles todos os dias e o blog deles tem todos os episódios catalogados por temas, o que facilita]. Eles vão te ajudar a se familiarizar com termos, nomenclaturas, são verdadeiras aulas gratuitas, além de conhecer profissionais da área;
- Assista lives, são gratuitas e tiram muitas dúvidas;
- Faça uma lista de empresas em que você sonha trabalhar e adicione as pessoas da área de RH e de produto;
- Monte um pitch de abordagem, isso significa um texto de agradecimento pela conexão e um texto apresentação sobre você (se venda nele);
- Tente marcar bate papos [produtivos] com essas pessoas. Saiba mais sobre a área, como é o dia a dia, quais os perfis que elas buscam para vagas e quais tipos de vagas elas costumam abrir;
- Crie conexões e as mantenha ativas. Não basta adicionar, abordar e tchau. Criar amizade é difícil, certo? Mantê-las é um desafio ainda maior.
Mas atenção!
Dito isto, algumas coisas devem ser frisadas. Quando você for adicionar uma pessoa para tentar fazer conexão, tente ler sobre ela, conhecer sua trajetória, ver se já fez algo parecido com a sua. Leia sobre a empresa que a pessoa trabalha, faça o exercício de pelo menos entender onde aquela pessoa atua, qual tipo de produto ela ajuda a construir.
Seja gentil, mas objetivo. Pessoas de produto costumam ter agendas apertadas. Ah, nem todo mundo vai te responder, claro, mas hoje a comunidade tem sido mais acolhedora. Afinal, somos uma profissão relativamente nova. Então, quando fizer um pedido de conexão não diga apenas “Oi, tudo bem?” enquanto espera a outra pessoa responder.
Quando eu falei em montar um pitch (textinho no qual você vai vender sua trajetória) é exatamente para agradecer a conexão e dizer o motivo de estar fazendo aquela solicitação. Se é para aumentar sua rede de relacionamentos, explique isso, conte como você chegou a conclusão de que quer ser um produteiro e como suas experiências passadas se conectam com a carreira. E tire dúvida, peça dicas, sempre!
E muita calma nessa hora!
Se você entendeu quase tudo até aqui mas se perguntou “como eu conecto minhas experiências passadas” isso não é um problema. Talvez esse seja o pontapé inicial de uma boa conversa com quem já está na área.
Esta é uma dúvida muito comum e eu levei tempo para conseguir entender isso. Observe a área à qual você vem e busque empresas do segmento. Por exemplo, se você é advogado, busque empresas como a Jusbrasil ou a Softplan. Hoje a maioria das empresas possuem produtos digitais e quando você vem de uma área muito específica talvez você tenha um conhecimento que pode agregar muito.
E as certificações? O que decidir?
Hoje eu não quero polêmicas, tá? Eu sei que não falei sobre certificações, mas acredito muito que antes de iniciar qualquer curso é importante você entender a área, buscar conhecimentos, estar familiarizado com termos técnicos e nomenclaturas antes de decidir qual curso você vai adquirir. Até porque a metodologia de curso que será mais produtiva depende muito de como você consegue aprender.
E aí, quem sabe esse [certificações, claro] não pode ser nosso próximo tema? Se a sua dúvida é se fiz cursos, a resposta é: sim. Mas uma coisa eu te garanto: foi seguindo esses passos que em apenas 5 meses eu consegui meu “sim”.
“Meu sim veio de vaga aplicada, 90% das minhas entrevistas foram frutos de relações que criei com abordagens no Linkedin”
Muita disciplina, dedicação e coragem. Até porque em uma época da vida eu fui vendedora de consórcio e aprendi que quanto mais “não” eu escutava, mais perto estava o “sim”. Então dicas dadas e mãos à obra!