Aprendizados de migração de carreira

Entendendo como foi minha migração de carreira e qual a importância das referências nesse processo tortuoso.

Aprendizados de migração de carreira
Photo by Nick Fewings / Unsplash

Contexto De Migração:

Acho importante dizer que nenhuma migração de carreira vai ser igual pra ninguém, pensando nos fatores multiculturais, disciplinares, background e bagagem de cada pessoa que se coloca nesse processo.

O meu contexto é de uma pessoa que trabalhou 8 anos com Customer Experience, e não só voltado para jornada, como também o atendimento propriamente dito.

Meu período escolar foi inteiramente no ensino público, nunca fui uma ganhadora de prêmios como olimpíadas de matemática, física ou qualquer coisa do tipo, nem tinha as melhores notas entre os meus colegas. Na faculdade, eu fiz Marketing, mas nunca trabalhei com nada relacionado durante minha carreira.

Em 2019 eu tive meu primeiro contato com um time fora de CX, porque a empresa que eu trabalhava permitia essa integração, na época fiz até um processo seletivo interno que não deu certo. Foi a primeira vez que eu me interessei por algo fora do meu escopo de trabalho.

Alguns anos depois trabalhando em uma startup early stage, eu tive o meu primeiro contato com um time de produto efetivamente, e a partir daí comecei a me interessar em entender mais sobre esse universo.

Puxei conversas com pessoas de produto que eu conhecia de experiências anteriores, procurei o mais próximo de um time de produto que existia na empresa que trabalhava até então e descobri que minha migração seria de voltando pro mercado, pois na empresa atual não existia essa posição, pois a empresa trabalhava com mindset voltado para projeto. Também aproveitei essas interações para pedir indicação de conteúdos, livros,  cursos, e com esses insumos eu comecei a minha jornada.

A importância das referências:

Dentro de casa eu tinha uma grande referência profissional, que era minha esposa. Ela acabara de realizar uma migração de carreira em um contexto muito parecido com o que eu relatei,  isso me deu um grande impulso para entender que seria possível.

Na empresa onde eu trabalhava, encontrei uma Product Manager que migrou de Enfermagem para Customer Experience e de Customer Experience para Produto. Pronto, eu tinha duas referências que abriram esse caminho pra mim a nível de inspiração e conhecimento.

Em julho de 2021, na minha busca por conteúdos, eu conheci o trabalho do Bernard De Luna, e em agosto, por ironia do destino, eu ganhei um curso em um programa de incentivo à inclusão, o Programa Impacto da Product Haus.

Esse curso foi a base para construção do meu conhecimento em Produto,  consequentemente o Bernard se tornou a minha grande referência a nível de conhecimento. Após concluí-lo , percebi  que precisava entender mais a fundo o papel de uma pessoa de produto de forma mais prática, sendo assim, procurei cursos bootcamps, workshops e literalmente qualquer coisa que me possibilitasse uma experiência mais mão na massa.

Nessa busca, eu encontrei o curso da Awari que tinha como diferencial, a mentoria de carreira, aulas ao vivo com professores atuantes no mercado e um projeto prático.Decidi fazer o investimento e algum tempo depois conheci o Marcos, meu mentor. Em todas as sessões abordamos pontos relacionados ao dia-a-dia, ao projeto de conclusão, soft skills, hard skills, com ele eu aprendi muito, conheci outras pessoas de produto que também se tornaram referências acessíveis.

Se você não conhece ninguém na área, existem muitas pessoas que democratizam o conhecimento: Bernard De Luna, Produteira de Recife, Raphael Dyxklay, Huxley Dias, Alex Ivonika, Fernando Ciccero, e muitos outros.

Cursos e Livros:

Ter uma base para começar em qualquer área nova é muito importante, e eu quis absorver o máximo de conteúdo teórico e prático possível. E eu realmente acho que estudei mais durante esses 8 meses, do que em qualquer outro período da minha vida, e tenho plena consciência de que assim como um processo de Product Discovery, essa busca por aprender tem que ser um ciclo contínuo.

Vou destacar alguns livros e cursos que conclui e suas principais características:

Cursos e livros são ótimas bússolas para direcionar o nosso foco de aprendizagem, mas é importante dizer que nenhum curso é obrigatório ou essencial para fazer a migração. Muitas vezes, o que conta mesmo são as famosas softskills, como a organização, você pode começar usando essa soft skill para documentar sua jornada de migração, e isso também vai ajudar com  aquela sensação de não saber por onde começar, e acabar caindo no conto da auto sabotagem de achar que não dá conta de tudo.
Não tenha pressa, o importante é você estabelecer metas, entender o que você precisa estudar e fazer uma coisa de cada vez, começando pela escolha de uma ferramenta. O Notion é uma ferramenta muito útil para organização, e conta com vários templates. No meu caso, usei pra fazer o meu portfólio, mapeamento de soft e hard skills, e para organizar os conteúdos que eu queria estudar:


A prática não leva a perfeição, mas ensina muito:

Com o curso da Awari, eu tive a oportunidade de desenvolver um projeto prático, e aprender bastante sobre frameworks, metodologia e os passos necessários para o desenvolvimento de um produto digital, mas eu sei que não é todo mundo que pode se permitir fazer o investimento financeiro que eu fiz. No entanto, existem diversos conteúdos gratuitos na internet, cursos, livros, artigos, workshops, lives, masterclasses e comunidades, se o momento não te permite o investimento, use e abuse do conteúdo grátis.

Faça estudo de casos de marcas que já existem, de problemas que você encontra no seu dia-a-dia ou na rotina de quem você conhece, ou mesmo que você ainda não conhece. No Medium existe uma infinidade de estudos de caso publicados que podem te ajudar a dar um pontapé inicial.

Estudar é importante, buscar é essencial, mas no fim também depende do mercado:

Buscar alternativas, oportunidades, conversas, espaços também são parte essencial na busca pelo “Sim”. Por mais difícil que possa parecer, tem muita gente disposta a ajudar, eu encontrei muitas dessas pessoas durante a minha jornada. E claro, tem gente que diz estar disposta e disponível, mas na verdade não está, isso vale para empresas também. É nossa responsabilidade ir mitigando isso em cada conversa, mentoria, entrevista, e não deixar que os “nãos” que vão aparecer em muito mais quantidade do que  “sins” te façam desistir do seu objetivo.

Não existe fórmula, existem caminhos e algumas portas no trajeto. Algumas vão se abrir, outras não, e está tudo bem. Entenda que o que está para além do seu papel de buscar não é sobre você e sim sobre o mercado estar preparado para receber, desenvolver, formar novos profissionais e entender que a troca de valor está justamente em entregar produtos cada vez melhores e mais diversos.

Aproveite todos os seus recursos até que eles se esgotem, não existe tempo certo, não existe tarde demais, o que existe são fatores controláveis e fatores incontroláveis. Sua comunicação, persistência, foco e organização são fatores controláveis que podem interferir em outros fatores que não dependem de você, como, por exemplo essa abertura do mercado de trabalho.

Lembra do Programa Impacto que eu comentei anteriormente? Com ele eu consegui minha primeira oportunidade de entrevista na área de produto, em uma empresa tem uma cultura de abertura à inclusão e diversidade, e foi com o que eu consegui aprender ao longo desse tempo, que eu conquistei meu “Sim”.

O meu ponto é que não existe uma receita de bolo que inclua cursos, livros ou conteúdos específicos. Minha migração poderia ter levado mais tempo, e poderia ter dependido de outros recursos.

Uma pessoa importante, sendo uma das referências que eu citei me disse:

“Que a sua história sirva pra mostrar para todas que é possível.”

Por isso, sem clichê, e sem me abster de noção da realidade do nosso país e da nossa sociedade, o único conselho tangível que eu posso dar é: Aproveite cada oportunidade, esse é o fator controlável que depende exclusivamente de você.